tag:blogger.com,1999:blog-67856126945846248322024-03-13T15:16:34.111-03:00De Novo Caras Pálidas"se for de paz, pode entrar"Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.comBlogger185125tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-14434175378694739992022-02-23T21:28:00.002-03:002022-02-23T21:28:50.742-03:00hora de amassar pergaminho 1<p><span style="font-size: medium;">agora, apenas uma sensação de que ainda não encontrei minha voz. nos afazeres do cotidiano, me sinto mais cansado, mas menos triste. é a meditação do ofício, essa entrega de pensamento disforme. mas ainda não me encontro, fico rodeando o interior de mim, nem mais posso escrever poesia, quase já não creio em sua existência, outro dia cheguei a duvidar da arte em voz alta. tremo ainda assim, tenho pavor de virar cínico silencioso.</span></p><p><span style="font-size: medium;">ainda não é hora de amassar pergaminhos. o dedo sem digital no arrasto do vidro, minhas mãos que um dia se abrirão tomadas de escritos, a textura e o encontro do sangue, fraqueza, vontade. a hipnose do contínuo, enganando em novas abas.</span></p><p><span style="font-size: medium;">tenho estado confuso, vez em quando delírio que sou personagem de livro, visto figurino, espero narrador. parece então que me posso embalar meu país nos braços, e isso nem com meus pais posso estar descalço. a ilusão de rostos atentos engana o alcance da minha voz, não a mesma perdida e fechada atrás da porta, prestes a ser descoberta quando a escrita eterna cessar, mas a do mestre mentira, magister do dia a dia. não posso mudar nenhum rumo, contribuo porque parece que assim deve ser, chego a crer com violência interior, mas tenho a sina de duvidar de tudo, até mesmo de mim.</span></p><p><span style="font-size: medium;">não me encontro, sempre reclamei disso em forma de poesia. e mais não digo: acho que tenho febre, mas deve ser cansaço.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-42430778815345414242021-08-24T20:54:00.002-03:002021-11-20T19:36:06.466-03:00FLUTUO NO SILÊNCIO - e pur si muove!<p><span style="font-family: times; font-size: medium;">às vezes é difícil rastrear a trilha que me trouxe aqui. ainda encontro corredores antigos com portas feridas, minha voz talvez esteja mais rouca, mas nova e contínua. mas de alguma maneira, estou aqui.</span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;">mais uma lição de humanidade que consigo perceber como os marcos de constantes boas vindas ao osso da estrutura, virei adulto. ensinaram-me a dissimulação como respiro de vida, são os hábitos de viver. fingir, é preciso mesmo fingir que capitulo, que cedo, que renuncio ao que escrevi! saber quando perdi o jogo dos subterfúgios se apresenta para mim como uma meditação: qual o homem que busco ser? minha teimosia em reclamar uma consciência e novidade nos meus passos: tenho medo de acovardar e sacrificar grãos de incenso, esses que não são mais acesos.</span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;">qual o homem que busco ser? essas coisas se apresentam na maneira como se costura o momento, as reações, sempre as mais sinceras. porque é esse o homem que quero ser: na verdade, e na liberdade, costurando meu caminho do jeito que creio. é a minha vida. não dissimulo o que escrevo, penso, falo. trabalho com a palavra viva da escrita. sou ator da literatura. negar o que a inquisição exige, acolher o silêncio obsequioso, penas e farsas, tudo comédia dessas vidas, privadas. é sobre o que eu falo, é sobre o que eu penso todo dia, nesses dias de crise e morte, e as tragédias das censuras, cátedra vazia, imagine o rombo no teto da sistina.</span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;">agora em ares de cronista: é de se reconhecer o que vemos nestas terras nos últimos anos, quando a palavra liberdade deixou de ser um grito boêmio dos sonhos de vida e passou a ser grito de marechais inexistentes, presos a um galopante rocinante sem ares algum, ideias de golpes rondando o refluxo da cegueira dos empanzinados. </span></p><p><span style="font-family: times; font-size: medium;">qual o homem que busco ser? o homem que sempre fui <em style="background-color: white; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">with this wind blowing, and this tide. </em><span style="background-color: white; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">quando experimentei o gosto de ser viúva arrastada pelo salão, pequena prostituta de mentes delirantes, sempre no arfar do pecado. fui muito feito de pedra, coberto de fuligem marinha, restos das nossas ações, nossos mariscos, sambaqui. fui muito vento sobre o vitral, ebó de semanas nas avenidas. permanente na escolha de ser minha linha.</span></span></p><p><span><span style="background-color: white; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: times; font-size: medium;">serei sempre místico, mesmo quando descubro que sou o professorzinho idealista. talvez tenha sido também o caso do trisavó profundo do recôncavo. sei que ele não existe mais, ninguém jamais saberá de quando ele sentou sozinho e constatou que desaparecia. é como sinto a vida eterna. é o que costuramos na nossa mortalha de usar no dia a dia.</span></span></span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-58879210679618932302021-08-21T13:16:00.002-03:002021-08-21T13:17:14.285-03:00QUANDO EU ERA POETA<p><span style="font-size: medium;">Quando eu era menino, e ávido descobridor de mim mesmo, escrevia poesia como moisés golpeando a pedra. os borbotões eram de mim, mas para afluentes. e foi nessa enseada estranha que navegaram tantas professoras. ouvindo e entendendo meu milagre, meu mistério, a voz mesma que nascia do bonito que me apresentavam. essas mulheres, sagradas parcas, ouviram meus ossos cheio de sal. </span></p><p><span style="font-size: medium;">a galeria de mulheres, madonas de quadro vivo, mães-fios, vejo ainda o cordato cordão de rubi e carmim. minha vó em suas histórias primeiras, minha mãe e suas recontagens penélopes, dona maria, seu cheiro de castigo, limão e milho. nete, solange, tânia, mariana, carolina, mulheres construtoras árduas de horizontes. essa ponta de toque da água quando antes do primeiro toque. as vasilhas de caruru entre os pequenos distribuída. o cheiro eterno de galinha e banana.</span></p><p><span style="font-size: medium;">quando eu era menino e escrevia poesia todos os dias, incomodava minhas professoras com indagações místicas. pressentia o chão que poderia pisar com a minha língua. porque é de minha voz que me faço carpinteiro. elas foram falantes bosques, o suspeitar da fumaça pitonisa. mas uma me disse, costurando, que hoje não escrevia mais, o trabalho foi lhe secando. o bom da existência de deus é o temeroso que existe em olhar a realidade. os avisos são educação, por isso o ifá, delfos, jacuípe, meu vaticano.</span></p><p><span style="font-size: medium;">nete tinha voz de velha, e ainda não era, mas me ensinou sobre deus, a raiva do desigual. foi quando aprendi a respeitar a revolta, a indignação que é hoje meu pão silêncio. quando eu era menino, rezei escadarias para atena, e via mesmo seu azul vestido andando em frente de mim. a delíria de ser rito. há outra, estava de olhos fechados, é possível que tenha sido maria, a de colônia, branca de pedra, mas celeste. a água que cai sobre todas as cabeças, mucunã. qualquer uma das minhas mães.</span></p><p><span style="font-size: medium;">quando eu era menino, tremi quando meu chão estivesse seco, e por isso sempre nele derramei meus vinhos, abri covas nas catacumbas para derrubar leite e mel. resisto ainda que dispersas estejam as cinzas, dendê, mel e água benta.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-38759447785875978002021-08-04T18:53:00.007-03:002021-08-04T18:53:48.905-03:00 QUEM NOS DIRÁ MEMENTO MORI?<blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><h2 style="text-align: left;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: large;"> <span style="background-color: white; color: #050505; white-space: pre-wrap;">QUEM NOS DIRÁ MEMENTO MORI?</span></span></h2></blockquote></blockquote></blockquote><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto"><span style="font-family: times; font-size: medium;">agora que nos acostumamos com a catástrofe, é de entender como são tépidas as ocasiões dos grandes crimes. o exigido silêncio diante do absurdo torna possível o caminhar, já estamos todos tão cansados, o que esperar de nossa força? então esquecemos. é verdade que guarda-se a suspeita do que poderíamos ter sido se reagíssemos ao morticínio, o caminho que teria sido construído no passado sanguíneo. mas buscamos o chão após cada passo, e andar gritando é coisa que não se faz, pois assim nos ensinaram os que antes também calaram porque era assim mais fácil: ser tépido, nunca brusco, ir enrolando os trilhos, enredando o fio no dedo, vivendo porque é o que conhecemos.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto"><span style="font-family: times; font-size: medium;">e ninguém falará, antes que o terrível tenha acontecido, pois o nosso ofício é lamentar o vidro partido. é depois a hora de ver, nunca adivinhando o que em nossos olhos é físico. lembra-te apenas passageiramente das grandes ideias do dia a dia, a tia velha democracia, a morte dos que já esquecemos, o sofrimento que se unirá às queixas passadas. e ninguém nos dirá que também morremos ao aceitar o abuso por escrúpulo. é o que vejo nas notícias, nas falas miúdas, nas imposições nêmesis.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto"><span style="font-family: times; font-size: medium;">então entendo que é possível rir enquanto o mundo acaba, pois banho-me até a cintura de água tépida que escorre, única possível, da boca dos vizinhos. morno costume: passado passado. amanhã morreremos, ensimesmados.</span></div></div>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-35653718303485243592021-07-29T19:04:00.003-03:002021-07-29T19:04:26.453-03:00 ASTROLÓGICO<h2 style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> ASTROLÓGICO</span></h2><p><span style="font-size: medium;">sou como cabra aflita<br />erguida nos altos picos<br />teimosia solitária<br />erguendo por oposto<br />meus chifres ao céu </span></p><p><span style="font-size: medium;">e é rasa minha montanha<br />sambaqui sem lugar pra bandeira,<br />conquista é dançar marinho,<br />livre de patas fendidas,<br />o fogo do que não posso dizer<br />porque cresci, porque sou adulto,<br />e minhas loucuras esfarelam<br />minha língua viva,<br />bifurcada:</span></p><p><span style="font-size: medium;">berrego minha cauda áspera,<br />piso forte no meu incerto chão<br />tenho lonjuras, aflito encaro de cima<br />o pantanoso esforço de amassar <br />meu próprio pão.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-14358797921795603152021-07-18T17:57:00.003-03:002021-07-18T17:57:50.185-03:00registro:<p>registro:</p><p><br /></p><p>meu interesse pela resposta verdadeira: é pelos outros seres que me confirmo. somos esse imenso desespero de luz. todos iguais pelas sobrancelhas, a hipnose quando nos debatemos com a cor do fim do dia. todas as mesmas experiências, expurgos, sangrias. nenhum futuro, nenhum dia. não sei como serei velho, a velha cor da poesia. sei que posso ter caminhos, a morte, a ausência sempre pressentida. a velhice, também na morte, é uma presença distinta, instintos de druida; o possível do olho ver, meu querer pela vida, por isso perseguir a sina. a emoção de mil instantes, minha tristeza repetida. tudo sentir em cor de céu, a nova experiência transida. analítico, divino, eu apenas não vejo ainda a luz infinita.</p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-18575945356335404542021-07-18T10:28:00.005-03:002021-07-18T10:28:56.290-03:00 A CARNE DE MENTIRA, POESIA.<p><b>A CARNE DE MENTIRA, POESIA.</b></p><p>tenho tanta vontade de falar<br />apesar de voz pequena:<br />ficará, é meu consolo, qualquer registro<br />do que trepou como folha<br />no centro do meu pensamento, meu olho.<br /></p><p>minha voz é minha vó,<br />minha figura de proa,<br />eu nos meandros das mentiras de menino,<br />e tanto vi, e tanto falei,<br />e tudo viam mentira,<br />quando era desejo de falar<br />o que eu queria, o que em poesia eu via,<br />meu isolado vinho, a voz falha,<br />histórias compridas.<br /><br />tanta fragilidade em minha voz,<br />e tanta voz escorre nas mãos,<br />guiando compasso e leme, maestro de mim,<br />as mentiras de adulto dançando na luz do fim,<br />meus mal entendidos gestos,<br />sempre pensaram o mal aqui,<br />quando era tudo desejo de falar,<br />pintar minha boca de carmim.<br /><br /></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-33825583341877276292021-07-15T18:00:00.004-03:002021-07-15T18:22:34.761-03:00<p><br /></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;"><span>há uma assembleia<br /></span><span>no oco de que sou feito.<br /></span><span>fatos como imagem de rio,<br /></span><span>vozes que cruzo no dedo.<br /></span><span>ouço murmúrios contidos,<br /></span><span>medos são sempre absurdos.</span></span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;"><span>de que ouvi da cruz<br />ficou atravessado <br /></span><span>como trave em meu braço<br /></span><span>a ânsia de ser ouvido<br /></span><span>pelos profetas de barro.<br /></span><span>tudo o que eu penso<br /></span><span>é sigilo, selo inquebrantável,<br /></span><span>fico trêmulo, meio bêbado,<br /></span><span>porque tudo escorre, naufrágio.</span></span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">quem ouve o que não digo,<br />não sabe onde estou achado,<br />e tudo o que persigo<br />é livrar-me de ser vigiado.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-70357515849855346472021-07-14T17:29:00.003-03:002021-07-14T17:29:58.125-03:00A CASA DOS VENTOS<p><span style="font-size: medium;">A casa dos ventos provou-se uma verdadeira cela de monge, não cesso de dizer, espantado pelo cronometrado da hora. Seu chão frio será aquecido por madeira nova, antes mármore luzidio. Em muitos momentos sentei inerte, habitando a novidade do silêncio. Mudar de casa é um pouco como trocar de alma, ficam alguns pelo caminho, o exercício dos olhos ensina muita coisa. Agora preciso prosseguir na retomada. Fiquei no meio de uma ladeira durante alguns meses, o suficiente para conhecer e experimentar. Sua parede galeria, meu primeiro esconderijo de amplas janelas, meu ninho-livro, a companhia. Motivos para os quadros que não pintarei, mas é preciso listá-los aqui, é maneira de minha palavra ganhar a imagem que apenas anoto para não perder.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Os ventos da casa dos ventos encontraram-me num areal de grande silêncio. Ensimesmado, fui galgando o enfrentamento em sensações ardidas. Murro, ponta de faca, esses ditados que nos falam da dor que é ter que entender que a vida é muitas vezes vivida pelo enfrentamento. Queria chamar de dor, mas é raiva. Pelas feridas que me causaram, violentos, e que não se diluíram pela misericórdia dos amigos. Cada dia me trouxe a realização do que eu sempre soube: Deus me ouve, e se quis ser monge sem votos, é na letargia tediosa que encontro a insuficiência da minha santidade abdicada. Não orei com fervor, trabalhei languidamente, amei sem hesitação de velho, mas reticência de novo. Empoeirei imagens dos meus sonhos. A vida não existia.</span></p><p><span style="font-size: medium;">E ainda não existe, mas a ampulheta girou o sol em suas sombras, e me encontro diante do mar.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Fui feliz, e estou submerso nos meus templos das graças. Fui agradecer na praia. Bebi e comi do meu passo trôpego (ay deus e o é) e senti a liberdade para gritar, como um braço novo, um pensar árvore, frondosamente balouçando. Já disse que mudar de casa é um pouco como mudar de alma, e essa experimentei o tempo que necessitei. E é só. Posso cantar pra subir. </span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-34251107008852309732021-06-28T11:20:00.003-03:002021-06-28T11:20:27.400-03:00ESCARLATE <p><span style="font-size: medium;"><b>ESCARLATE </b></span></p><p><span style="font-size: medium;">doeu no ardor do medo<br />todo homem que já amei,<br />mas ainda amo, e valente.</span></p><p><span style="font-size: medium;">deus não me disse nada,<br />mas ainda me vejo escondido<br />na delícia caseira dos domingos.</span></p><p><span style="font-size: medium;">a liberdade que me alcançaram<br />ainda tremula por acontecer<br />fogos azedos, indignidade silenciosa.</span></p><p><span style="font-size: medium;">não é meu todo corpo despedaçado,<br />mas em mim existem as vozes<br />que precisam ser saltadas.</span></p><p><span style="font-size: medium;">hoje me falam de orgulho, sub-reptícios,<br />e eu desconfio de alguma coisa,<br />beijando acalorado o meu amado.</span></p><p><span style="font-size: medium;">percebendo as cicatrizes de viver, recentes,<br />contabilidade desse impotente ato de revolta,<br />vou esperando, tão viado, a justiça iridescente.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-2541252556855685802021-06-10T20:29:00.001-03:002021-06-10T20:29:09.991-03:00PIA DESIDERIA<p><span style="font-size: medium;">PIA DESIDERIA</span></p><p>mesmo coberto de palmas de palmeiras<br />malícia do tempo<br />finco o tronco do veneno, o grito<br />desejo de viver, a morte por isso não existe</p><p>espreita pois é a primeira das filhas de deus<br />nossa tão próxima companheira, <br />dorme e nos lambe os beiços feito as almas,<br />todas as noites, como me disse o meu avô</p><p>por isso, nenhum medo, mas muita raiva<br />porque em mim transpassa a curiosidade do amor<br />por essa gente esquálida, os humanos mesmo<br />ridículas criaturas sem alma, só vagando no nada<br /></p><p>e não merecem meu ardor, e é por ser eles<br />que me dedico a dedilhar cordas e pés<br />vozes dançando cansadas, a pouca vida,<br />o muito tempo que guardo em mim<br /><br />mas eis-me arando um cemitério de vivos,<br />palmeiras cobertas de sonhos,<br />os cocos velhos transbordando salitre,<br />esperando ser caveira, produto final,<br />sinal dos tempos.</p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-46392680044753606042021-05-05T19:11:00.010-03:002021-05-05T19:12:07.937-03:00CRÔNICA 3<p><span style="font-family: trebuchet;"><span style="font-size: medium;">Para mim, a dor da vida sempre foi a injustiça. É onde mais sinto a fratura da máquina do mundo. Percorre todo o meu espaço, contorce minhas mãos na obrigação do ver. É difícil entender quais são os mundos que preciso escolher. Desconfio que compartilho a mesma dor entre cordas que voam furtando o tempo. É algo que me consola, uma vez que o mundo vai me tornando cético contra a minha vontade. Tento agarrar-me ao sólido do perene rio, intermitente, que arde meu choro. Pois constantemente choro um pouco, é quase uma forma de rir, o desejo de sentir. Vou deixando minha pele de esperança. Não há surpresa: meu país está de luto entorpecido, as pessoas desistiram de esperar a pandemia acabar e começam a lançar-se no desespero violentamente. Ânsia e mudez, aproveitando o furor dos poucos dias até a realidade vestir-se de morte, o véu cada vez mais longo, enquanto ficamos surdos.</span></span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">***</span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">Registre-se: não encontramos decisão.<br />Deslize-se: a alma ao corpo indaga.<br />Derrelide-se: o covarde abre as asas.<br />Amorfine-se: a vida levanta a saia.<br /></span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">***</span></p><p><span style="background-color: white;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">Da profissão de professor que eu tanto admirei em meus mestres e por isso lhes segui o caminho, pouco restou. Há muito desprezo e qualquer mágoa escondida por seu papel incompreendido. Sem mãos para darem e corações para confiarem, vagam os mestres entre o cansaço e o pejo. Solitários, preenchem salas e salas e não lhes sobra tempo para o perceber. Há medo, e talvez seja tudo. Falamos de vela na mão, ofegantes. E quase nunca é a nossa voz, porque rareada a liberdade ou a condição. Duro ser jovem e não crer em ilusões. Na verdade, não há ribalta, e qualquer bolso que tilinta alimenta ilusões e tolices. Bálsamos existem, mas não é comida de dia de semana. Há quem creia, não eu. Porque desacreditaram do que dizíamos e acreditamos não dizer nada. Agora, mudos mesmo de pavor, não reconhecemos a verdade do mundo. Mas se todos morrem, é fato, porque não tentar também?! Dispersas as minhas admirações, torno-me parte do silencioso grito. Porque há tanto medo: morrer, ousar dizer.</span></span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">***</span></p><p><span style="font-family: trebuchet; font-size: medium;">Ainda não será hoje que escreverei sobre a raiva. Talvez não o faça nunca, tão presente que está em mim. Não posso ainda ter a ousadia de conseguir ver o que virá. Cassandra nunca passou aos pés de mim, Tirésias existindo para desafiar. O quadro não pode ser vermelho, porque estou lidando com o súbito. </span><span style="font-family: trebuchet; font-size: large;">A minha triste, vulgar, tão repetida esperança de que tudo vai mudar se eu calçasse meias.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-4685791328861480872021-04-13T21:08:00.008-03:002021-04-13T21:13:04.180-03:00NOVELO<div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b>NOVELO</b></span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">é óbvio que na escuridão não se vê norte,</span><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">e é mesmo o sul que procuramos dentro daqui,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">as infinitas terras, múltiplas dimensões,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">muitos tempos vivificados neste espaço:</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">sangues histórias futuras tensões.</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">porém não se vê nada, nada que aspire,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">a água salgada nas tripas de nossas mãos,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">trens antigos sempre sendo o vindo,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">o que viria, o que virá,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">é como hoje se faz poesia.</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">e nada se toque, nada pare a hecatombe,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">sacrifícios incontáveis, cálculo eterno</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">nas grandes bombas que caem sobre as cidades,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">não há sangue, por isso ninguém grita, sufoca.</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">é esperado que haja qualquer semente de luta,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">olhos cegos, desesperos e infernos,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">qualquer pé para caminhar pelos</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">dias azuis, ontem parou de chover,</span></div><div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">pode-se viver.</span></div>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-58330264813641230202021-04-12T18:13:00.001-03:002021-04-12T18:13:10.045-03:00MEDITAÇÃO REMOTA<p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> MEDITAÇÃO REMOTA</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">escorrem de minha boca<br />tentativas e cansaços<br />o fio de ouro, a bússola pura<br />um labor, um ofício, a língua sem melodia<br />o pensar e delírios, vagas querências<br />de raízes, espíritos, críticos<br />enjaulados, feridos, inúteis.</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">meu ofício, labor de onda quebrada,<br />não salva, não constrói passos, caminhos.<br />tenho sempre o peito ardendo,<br />algo que não é a fúria, mas a inutilidade<br />escarrada, meu falar inócuo.<br /></span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">são vidas em fomes, resignar contido,<br />a textura em úlcera, a telementira.<br />meu choro partido, arma, palavra,<br />tentativas vazias.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-59119061964418357612021-04-11T19:20:00.006-03:002021-04-11T19:21:03.524-03:00CRÔNICA 2<p> <span style="font-size: medium;">Há que se esconder a raiva, ou ignorar os pedidos de socorro que todos damos silenciosamente, pois é proibido gritar no cotidiano dos dias imóveis.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Caminhamos, pois é necessário caminhar, assim nos ensinaram quando abriram os caminhos de calcário vermelho e fizeram nossas pernas fortes para a queda e para a pedra.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Amanhã retorno aos ritos cotidianos do ganhar o pão que me alimentará até cessar a necessidade de ser carne e corpo. Ressinto-me das pequenas humilhações que o ofício impõe. Sinto como uma espinha de peixe, e não há vela santa que possa me desengasgar da arrogância que os clientes da educação levantam sem pejo. Fui lenhado em cruz por levantar bandeira. Fui taxado de comunista por refletir cotidianamente sobre a injustiça da nossa vida. Que outra coisa eu posso fazer? além de falar, falar e ocasionalmente escrever, mesmo que não me leiam, mesmo que me apagam, mesmo que não haja baú para minhas apalavras?</span></p><p><span style="font-size: medium;">Consequências da solidão. Há algo de prisioneiro na minha obstinação. Quero ficar vivo, e pressinto que poderei vencer, como tantos outros desesperançados, este momento iracundo. Transito entre os círculos do inferno destinados ao furibundos, longe de qualquer resignação, suntuosa palavra. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Quando corro pela orla da Barra, encontro comportamentos mesquinhos nos rostos limpos, mesmo em tardes pandêmicas. Como não ter raiva, em todo lugar, em todo tempo? Por mim, por aqueles que morrem, por aqueles sem condições de viver.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Vamos sendo afligidos todos os dias por notícias terríveis. O bolso aperta, e eu tenho tantos sonhos. Tenho vergonha da situação que nos colocaram. E acima de tudo, tenho raiva, tenho raiva. Se eu pudesse transfigurar minha raiva em ação, e essa ação nos poupasse lágrimas! Mas não existem milagres neste mundo, cada mais percebo. Não há justiça, também. Há caos e coincidências, providências do universo. Por enquanto, tenho que transformar a raiva em paciência.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Tudo passará, e aqui não rezo cristiano. Tudo passará porque nenhum de nós poderá se adiar indefinidamente. Mesquinhos, nossa corrida em calcários vermelhos não nos levará muito longe.</span></p><p><span style="font-size: medium;">São os tempos, são os tempos. <br />Fomos felizes e as paredes nos dão prova da esperança. </span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-6995814748083871392021-04-07T20:30:00.004-03:002021-04-07T20:31:19.853-03:00CRÔNICA 1<p><span style="font-size: medium;">Não é tempo de poesia. A poesia não pode explicar nada do que estamos sentindo agora. Poesia é memória, e nosso tempo composto de absurdo precisa ser explicado. É tempo de prosa, e prosa óbvia, prosa prova, prosa didática, prosa professor. É tempo de prosa, pelo menos é assim que tem acontecido aqui.</span></p><p><span style="font-size: medium;">A raiva é um sentimento constante, todos os dias. Raiva de tanta morte, raiva dos crimes que nos fazem, raiva da passividade, raiva do medo, raiva da raiva, raiva da impotência, raiva da esperança. Como posso ousar ter esperanças, sabendo o que sei, sentindo o que me obrigam a sentir? Meu povo, essa gente que me é corrente invisível, atravessados todos no que eu também sou, nossa guarda compartilhada da esperança que era o Brasil, desaparece. Como minhas mãos são pequenas, como meus gestos morrem como borboletas logo ali! As ondas que gero com minhas palavras não mudam nem mesmo o meu próprio comportamento. Mas ainda tenho esperanças.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Ousam nos exigir continuidade, como se encíclicas fôssemos. É preciso falar, logar, clicar, postar, é preciso corrigir, sorrir, fechar, suportar, é preciso ouvir, fazer, perder. Tudo continuar. </span></p><p><span style="font-size: medium;">Meu trabalho tem sido difícil. Tenho cinco anos de sala de aula. De tudo que é ser professor, a certeza do ofício, a dignidade da persistência, toda essa dureza insistente, tudo era epifania na sala de aula, a relação entre eu e os alunos, a minha fé, a minha delícia, o meu delírio de pensar acompanhado. Tudo isso foi-me tirado, é consequência da pandemia, agora estamos todos em casa, e essa casa também é trabalho, não vemos mais nenhuma fronteira. Uma tarefa coletiva virou uma solidão arrasadora. Minha imagem chega a eles em ondas. E estão todos cansados.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Nós estamos cansados, e eu estou cansado de tanta coisa, e nossos alunos também. Adolescentes que não estão tendo tantas experiências, como podemos esperar qualquer coisa além de uma resposta hesitante? São tempos de guerra, era caso de uma amorosa disciplina, mas não temos esse espírito no Brasil. Poderíamos ter, mas aí são minhas vontades de desejar que possamos existir. Não preciso imaginar o quanto é difícil, pois para mim cada dia é o meio do Atlântico.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Não deixo de estar solitário, apesar da consciência. Talvez encontre um pouco de desespero no meu cansaço, na minha apatia, na minha tristeza (por que não dizer?): tristeza grande, e tenho medo de quando começar a chover.</span></p><p><span style="font-size: medium;">E ainda existem as injustiças íntimas, um espinho no meu olho, sempre me obrigando a ter mais coragem, mais vontade de falar "existo". Vinte e oito anos, há dez anos me assumi. Hoje em dia não se fala mais em se assumir (ou assim li em algum lugar), mas eu me assumi para lutar ferozmente pela minha ilha. Ainda hoje, depois de tanta briga por dignidade, existem perseguições pelo que escrevo, pelo que falo, pelo que sou. Há quem ache que pode questionar quem eu sou. Como eu poderia imaginar que a liberdade existe nessas terras arrasadas? Símbolos dos tempos também aqui. </span></p><p><span style="font-size: medium;">A pobreza cresce no reino da morte, mas por enquanto ainda sou testemunha viva.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Fico com a prosa, a poesia anda envergonhada, há muito o que explicar, e é tempo de registrar. A recordação virá, talvez, depois.</span></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-80830332786598368362021-03-16T20:09:00.002-03:002021-04-12T18:13:59.101-03:00POEMA ÓBVIO<p><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><b>POEMA ÓBVIO</b></span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">eu vos saúdo,</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">ó mortes desnecessárias</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">eco, vagula consciência</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">almas brasileiras tão pouco pranteadas</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">nesta calma hecatombe primária</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">faço-me sumo sacerdote irado e imberbe,</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">nenhuma cinza sobre as minhas barbas,</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e toco vossos sinos várias vezes na vigília</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">lamentando vosso número, que também é nosso</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">íngreme cemitério de carcaças insepultas</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">hoje fostes duas mil oitocentos e quarenta e duas</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">- mas enquanto não me incluem na conta – pensam todos</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">ainda respiramos nas viradas desconcertantes das relojoarias suicidas</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">mas amanhã posso compor parcos caracteres</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">pois vamos morrendo e não somos cordeiros</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">não há altar, pão ou incensados fumaceiros</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e não nos lamentam como se fossemos</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">os cremados nos fornos de auschwitz</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">um dia houve que quedamos sob</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">os bombardeados mortos, respeitáveis</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">de hiroshima e nagazaki e guernica,</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">antigas guerras e possíveis explosões</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">um dia houve que fitamos o mar</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">pensativos em tsunamis e trovões</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e não me esqueço das não poucas águas</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">que lavaram nossos terreiros</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">por afundados barcos, tumbeiros esquecidos</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e o silêncio que atravessa nosso umbigo</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">mas somam hoje duzentas e oitenta mil apressadas travessias</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">nos secos leitos de nossos esfarelados olhos</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e fingimos tão profundamente a urgência do medo e da vida</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">que andamos quase alegremente como andam os que não</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">sentem as dores das guerras</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">insones, silentes, ensimesmados, indignados</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">não há resto de voz ou paciência de poesia</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">nos envelhece a raiva pela desfaçatez dos déspotas</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">e nada cresce em nós enquanto não estamos na lista<span class="Apple-converted-space"> </span></p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">dos que aguardam resignados</p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">o fim dos próprios tempos.</p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;">16/3</p><p></p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 13px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 15px;"><br /></p>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-81453536763930668622020-04-22T22:51:00.001-03:002021-04-12T18:09:14.788-03:00rezemos pelos que negam.Rezemos pelos que negam: seu silêncio covarde é a pedra rolada de um túmulo vazio. Ouço murmúrios de peste, fome e morte. A guerra se apresenta clara nas bocas abertas dos ignorantes. Legiões, falam as bocas escorrendo ódio: acredito na morte! Digo morte! como se dissesse lucro. Os meandros do pensamento enferrujam os gestos de minhas mãos. Prefiro, dizem eles, ignorar.<br />
<br />
Rezemos pelos que negam: o constante grito é pedra rolada de um silêncio covarde. Sustentam-se de mentiras porque reconhecer o caminho dos fatos é impossível. Algumas possibilidades se perderam quando renunciamos à busca, dizem. Só ousamos falar em balbucios indignos. No chão, traços de pensamentos mortos. Quem aqui reina é o ódio.<br />
<br />
Rezemos pelos que negam, embora seus gritos covardes me espantem a capacidade de compreender. Busco as origens da minha preocupação, vejo vidas de professores colocando os instrumentos em minhas mãos: ouso pensar. Os livros são a busca pelos meandros. O passado palpita em minhas esquinas, a história se repete, é nossa sina. Ânsia. Busco a luta, não há! Ouço murmúrios de peste, fome e morte. Mas a mentira é a verdade, a verdade é uma só: é a ideia de criar realidades com nenhum olhar.<br />
<br />
Rezemos pelos que negam, mas não digo bem-aventurança ou qualquer desejo de vingança. Rezar como lamentação. Como quem diz: rezei por você, mas ouvi murmúrios de peste e morte. Pensei, início, em um novo homem, nascido da experiência da dor. A palavra família, futuro, futuros! em uma casa comum. A peste não é a panaceia possível para os escravos que somos. Há raios que silenciam esperanças: estamos atravessados pelos horrores da realidade, um faixa verdeamarela cavando covas sobre nossos costados. Tudo está bem.<br />
<br />
Rezemos pelos que negam, porque seus gritos de omissão escondem ódios antigos. É só reparar.Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-38391701107059996202019-09-04T09:16:00.004-03:002021-04-13T21:17:24.167-03:00ESPANTOS <br />
<div class="MsoNormal">
<b>ESPANTOS<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
como explicar, amor,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o que é pela primeira vez<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
amar?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
sem o peso do gozo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
mas a venturosa corrida pelo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ouro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
seus braços criando mundos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nas delícias terrenas do limite<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
do corpo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
e sentir o novo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nas passadas do novo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o velho sentir<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
sentir toda a água do mundo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
dentro dos ventos que tenho<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nos olhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
voar nas costas de um anjo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que beija com a<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
pele<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
alcançar qualquer coisa que<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
tenhamos debaixo dos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
ossos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
sentir o gosto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
quando parecia esgotado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o tempo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
amar no plácido arranhão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de todo momento de<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
poema<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
vivendo a pureza <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
da impossibilidade de poesia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
porque o lirismo já é rima<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
e qualquer palavra<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
é inútil além do corpo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
criado na nossa união<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
e não vivemos senão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
pela calma inútil da espera<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de sermos para sempre<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
sem nunca encontrar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o caminho ausente<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de saber o que é</div><div class="MsoNormal">amar mais que amar.</div><div class="MsoNormal"><br /></div>Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-20704075026772720522019-07-29T17:56:00.001-03:002019-07-29T17:56:23.737-03:00CHUVACHUVA<br />
<br />
toda chuva que cai<br />
repete o dia em que<br />
conheci a solidão<br />
pela primeira vez<br />
<br />
naquela tarde<br />
não chovia<br />
<br />
mas trovejava<br />
dentro de mimMatheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-472733907238447222019-04-30T23:03:00.002-03:002019-04-30T23:03:53.574-03:00CÂNTICO DOS NOVOS CÂNTICOS<br />
<div class="MsoNormal">
CÂNTICO DOS NOVOS CÂNTICOS<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
meu antídoto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
beberagem amaviosa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
quando escorre sangue<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nas minhas pernas falhas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
o mar que brinca de tocar o céu<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
quando os corpos antecedem os olhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e palavras não alcançam as mãos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
seu rosto,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
minha educação: o riso preso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
no ruivo do beijo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
longínquas alturas dos teus eixos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
os fragmentos dos cristais<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
na ponta dos seus dedos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
lições aprendidas então<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
na ressaca dos desejos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
meu areal de ouro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
mergulho da aliança do calor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
palavra escondida, palavra evitada<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
palavra de susto:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
amor,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
meu antídoto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
do medo.<o:p></o:p></div>
<br />Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-74561295140142297732018-12-12T13:32:00.002-03:002018-12-12T13:32:36.399-03:00O VÍCIO E O CELULAR<br />
<div class="MsoNormal">
O VÍCIO E O CELULAR<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
o vazio da tela me atrai<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e os aplicativos sempre me distraem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
acendo a luz para de novo verificar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o nada que aconteceu no meu celular<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
revisito sem parar as mesmas coisas,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e são fotos e vídeos e likes repetidos,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
não tenho nem mesmo a coragem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de enfrentar a armadilha do feed infinito<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
se falo de uns óculos ou de um sapato<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
logo o algoritmo me surpreende os olhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e as propagandas pululam para mim<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
enquanto leio textos enormes, e rio de um gato,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
se tiver sorte, ouvindo meu telefone vibrar no limbo,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
não se mexe: é meu vício, a trama do celular que é detrito.<o:p></o:p></div>
<br />Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-10027082377105223822018-05-16T21:47:00.001-03:002018-05-16T21:47:55.470-03:00DEFESAS<br />
<h2>
<b>DEFESAS</b></h2>
<br />
<div>
<span style="font-size: xx-small;">MEMÓRIA</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">Amar o perdido</span></div>
<div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">deixa confundido</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">este coração.</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">Nada pode o olvido</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">contra o sem sentido</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">apelo do Não.</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">As coisas tangíveis</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">tornam-se insensíveis</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">à palma da mão</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">Mas as coisas findas</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">muito mais que lindas,</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">essas ficarão.</span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-size: xx-small;">Carlos Drummond de Andrade</span></div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sei que a minha história não interessa a ninguém.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Essa consciência me dá liberdade de contá-la como me
aprouver.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Defesa do esquecimento.</span></b><br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje eu acompanhei minha avó em
uma visita a sua prima mais velha. Essa minha tia-avó sofre há 12 anos de
demência. A figura que contemplei nada me lembra a personagem que criei em
minha cabeça durante as visitas da infância ou através das histórias contadas mil
vezes pela narrativa envolvente de minha avó. A ideia vaga que tenho dela se
esfumaça e contemplo a figura pequena sentada na cadeira. Um quadro melancólico,
a senilidade, a fragilidade de um corpo que antes se apresentava robusto e alto,
a voz vacilante quando era poderosa, potente, um trovão que se ouvia atravessando
a casa declamando seus dois bordões favoritos (“um espetáculo” e “porra!”), o
grotesco terno de uma boca cheio da ausência de dentes que esconde a conhecida
beleza de antigamente, beleza que fechava comércios, beleza que inspirava
luxúria, sensualidade que arrebatou poderosos. Tudo isso, e toda a vida além,
os sofrimentos conjugais, as violências, as belezas da prole, a satisfação da
autonomia, tudo aquilo virou um presente que ela não recorda. Ou pelo menos não
recorda todo o tempo. As acompanhantes nos dizem que, por vezes, ela começa a
recitar um rosário de memórias. São ilhas cada vez mais esparsas, deslocadas
para longe pelos gritos histéricos da demência. É o ocaso, o cheiro de velhice,
o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">memento mori</i> do Imperador, a
lembrança do futuro. Muito ela esqueceu, mas não esqueceu do amor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Isso me impressionou. Enquanto minha
avó, talvez constrangida pelo desafio que é encarar o elemento conhecido sendo
transformado e, quem sabe, destruído diante dos seus olhos, mergulhava na insistência
do lembrar e puxava histórias cada vez mais antigas, minha tia-avó observava a
sala e me confundia, vez e outra, com meu bisavô e com meu tio. Encarava o
mundo que se revelava pequeno através da janela do seu cômodo final e
comentava, cotidiana: “vai chover”. O clima, as nuvens, a chuva que nunca mais
sentirá tocar sua pele, olhe lá o risco de uma pneumonia aos oitenta e dois
anos, não é perigo que se corra, ela está muito bem agasalhada em sua cadeira
de plástico, as árvores que balançam na rua deserta. Tudo o mais interessa a
ela, não as reminiscências declamadas por minha avó: as histórias dos carnavais
passados não interessam mais. De alguma forma, ela sabe que o passado está para
sempre à sua mão. O perdido é o presente, e talvez isso lhe interesse mais. O
futuro não existe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando minha avó perguntou, com
seu olhar de bondosa e augusta malícia, de quem mais ela lembrava, a resposta veio
como um raio: “minha mãe”. Foi o mote para sua prima retomar as lembranças que só
tinham efeito naqueles que não vivem no passado, ou naqueles que conhecem o
conceito de passado. Para quem atravessou a ponte do tempo, ontem é hoje. Em
determinado momento, revivendo as complicadas intrigas familiares da prima doente,
minha avó fulminou: “O amor da vida dela não foi nenhum marido, foi Severino.”
Virando-se para ela, indagou: “não foi?”. Mais uma vez o raio, agora um eco dos
trovões da minha memória de menino: “É!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela lembrava de Severino, um
namorado da juventude, mas não se recordava dos dois ex-maridos ou ao menos se
importava com a notícia da morte deles. Ela não participou muito dos
intrigantes métodos arqueológicos de minha avó. Depois da recordação do amor perdido
da juventude, o amor proibido, talvez o primeiro amor?, minha avó diz que sim, ela
olhou para mim e, percebendo algo que ninguém havia se dado conta, reclamou: “ele
quer ir embora”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sim, eu queria ir embora, mas não
pelo tédio de ouvir histórias há tanto amontoadas e perto de serem para sempre
perdidas. Queria ir embora, e demonstrei a inquietação de alguma forma
misteriosa, porque me imaginei no lugar dela. Percorrer para sempre os mesmos
corredores e conquistar, de novo e de novo, os mesmos reinos, destronando os
mesmos senhores. Lutar em vão com o esquecimento. Perceber a inutilidade do não
sentir. Construir pontes elevadas por cima de toda vivência cotidiana
posterior. O prazer do detalhe aumentado por óculos enormes. O coração que se
expande até o infinito e para de bater. Ter oitenta e dois anos e dizer como um
raio quando alguém perguntar “ele foi o amor da sua vida, não foi?”: É!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Defesa da lembrança</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje eu acordei entre tremores e
choros presos. O sonho recorrente me assaltou mais uma vez. De novo nos reencontrávamos
para debater, como senadores capitolinos, o destino do nosso passado. Sou
assombrado pela lembrança do não ocorrido. Um ponto nevrálgico do meu novo
cotidiano, do meu novo normal. Até quando deverei ser refém do passado que quer
ser lembrado? O tempo passa sem fazer seu trabalho de sepultura total. Haverá
sepultura total?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uso um exemplo da minha própria
caminhada (metáfora de-fi-ni-ti-va da vida). Há anos, oito, se não me engano
nas contas, beijei pela primeira vez um rapaz. Escrevi “menino” e apaguei, mas
a verdade é que éramos dois meninos, eu muito mais moço do que o outro, embora,
em idade, fosse mais velho. Meus lábios meio fechados eram claras demonstrações
do medo e da excitação. São histórias para outro momento, não vamos entrar aqui
na trilha do desejo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O ponto é: depois da difícil autoaceitação,
eu me apaixonei pelo rapaz dos primeiros beijos. Na época, histriônico, achei
que estava enlouquecido de amor. Foi com prazer mordaz que senti o filete de
sangue manchar a corda que segurei com mais força do que a necessária. Achei
que era amor e, de alguma maneira, foi um amor juvenil, importantíssimo no momento,
mas poeira na história do tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Anos se passaram e Ele aconteceu
cheio de seus Antes, Durantes e Depois. O rapaz da boca macia há muito havia se
perdido no breu das matas do inexplorado e habitava, como é preciso com todo
primeiro amor (e ele o era, de fato, um primeiro amor de homem), o altar do
idealizado. A vida acontece de formas divinas: inescrutáveis, inconsequentes e
inadivinhadas. Reunimo-nos de novo. Foi um choque, admito, revê-lo depois de
éons, mas foi um exercício de futuro. Meu coração nem farejou o animal
adormecido. Nenhum intumescimento, apenas a ternura do Eu que fui. Foi o
reencontro com a doçura da história que criei apenas na minha cabeça.
Pobrezinho, o rapaz nem suspeitava das minhas lágrimas ou das músicas que lhe
dediquei e que dedilhei com pastoral ingenuidade durante os anos de aparte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Que exercício de futuro! Salvemos
as proporções que o coração dá ao recém-acontecido-ainda-sonho-com-isso.
Salvemos os anos de convivência e a formação de um caráter. Salvemos o castelo
vazio e o vinho derramado. Salvemos e ignoremos as alfaias sagradas rasgadas no
templo. Salvemos do chão o pó das sandálias. Salvemos a dor que escorre do
ombro. Salvemos, enfim, todo o sentimento. Ele, o Ele eterno do hoje, também estará
perdido? Ou daqui a oitenta e dois anos lembrarei dele com o mesmo afinco?<o:p></o:p></div>
<br />Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-90749794367445628362018-05-07T01:45:00.001-03:002018-05-07T01:45:23.812-03:00NOSSO ÚLTIMO POEMA<br />
<div class="MsoNormal">
NOSSO ÚLTIMO POEMA<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
uso seu perfume<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
como quem morre<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
um pouco a cada dia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
vingança só minha:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
te matar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
te mantendo vivo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
há pouco chegou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
aos meus ouvidos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
a notícia da sua morte<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
e a sua morte,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para mim,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
tem a aparência<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
do seu sorriso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
a cama que você deitou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
não mais existe<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
as sandálias que você deixou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
não cabem mais nos meus pés<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
os livros que você me deu<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
estão brancos e nunca foram escritos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
tudo o mais<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
é migalha na estrada<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
são restos por mim cuidados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
a forma minha de frágil amparo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
a forma de não te perder<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
num adeus continuado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
mas seus pés são grandes<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e curto é o caminho:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
a notícia de sua morte<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
há pouco me deixou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
sozinho<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
eu pousei a pena<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
porque tudo está consumado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e minha mão que foi seca<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
porta agora as bênçãos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que você ignorou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
7/5</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
há que se ressaltar meu vago sobressalto quando te vi. o fim está consumado, não espero nenhum milagre, nem mesmo quero o fogo, não quero ser salvo. te vi de longe, e você estava frágil e fraco, mas rodeado, e isso parece muito bom, parece que está tudo bem, então segue o voo, ave sem asa, que eu guardo as penas que encontrar na estrada. o cansaço já é maior que qualquer coisa. hoje é o fim da navalha.</div>
<br />Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6785612694584624832.post-31570204267079853592018-04-07T18:11:00.000-03:002018-04-07T18:11:12.096-03:00ODE À FRIEZA<br />
<div class="MsoNormal">
ODE À FRIEZA<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso coragem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para unir as mãos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e estrangular o amor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que ainda pede perdão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso ser guerreiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
linhagem ancestral<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso ser inteiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para assinar o rito final.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso não ter sangue<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para cortar o velho coração<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e não ousar ouvir nem um sibilo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nos despojos da compaixão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso saber o futuro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
com os olhos presos no não<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para ignorar os gemidos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e desbravar a solidão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso ter desejos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para navegar um novo chão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso ser veleiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
quando o mar se torna grão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
é preciso ser perfeito<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
para enfrentar o grande amor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e com o ardor de outros tempos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
dizer que acabou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
7/4<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
aniversário de morte.</div>
Matheus Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11754496948068010045noreply@blogger.com0