- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

ESPANTOS


ESPANTOS

como explicar, amor,
o que é pela primeira vez
amar?

sem o peso do gozo
mas a venturosa corrida pelo
ouro

seus braços criando mundos
nas delícias terrenas do limite
do corpo

e sentir o novo
nas passadas do novo
o velho sentir

sentir toda a água do mundo
dentro dos ventos que tenho
nos olhos

voar nas costas de um anjo
que beija com a
pele

alcançar qualquer coisa que
tenhamos debaixo dos
ossos

sentir o gosto
quando parecia esgotado
o tempo

amar no plácido arranhão
de todo momento de
poema

vivendo a pureza
da impossibilidade de poesia
porque o lirismo já é rima

e qualquer palavra
é inútil além do corpo
criado na nossa união

e não vivemos senão
pela calma inútil da espera
de sermos para sempre

sem nunca encontrar
o caminho ausente
de saber o que é
amar mais que amar.