- guia de um ordinário vernáculo -


sábado, 15 de janeiro de 2011

CONFORMAÇÃO

CONFORMAÇÃO

Eu me conformei
em virar vigia,
me consumir noite e dia
imaginando com aflição
onde andas onde cantas
onde será que encantas
outros bobos por aí...

Eu me conformei
em virar vigia,
em não sofrer durante o dia
e me desesperar durante a noite,
fazer vigílias e acender a poesia
que queima aquilo que alguns chamam
de...
coração.

Eu me conformei
em virar teu vigia,
em ser discreto
(mas não distraído),
e só encontrar a paz
quando finalmente dormes
e desaparece do dia
em um clarão de explosão.


15/01/2010

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

NOITE COTIDIANA

NOITE COTIDIANA

A casa fez-se em silêncio.
Cada qual repousou tranquilamente em seu quarto,
fingindo usufruir de um bom sono,
de um sono restaurador.
A casa gemia, estalava, retinia.
As almas retiniam, gemiam, retorciam.
Os corpos se mexiam, ardiam, contorciam-se.
As esperanças dormiam.
A continuidade percorria tranquilamente
os espaços entre os quartos.
O dia de ontem já não existe no desesperador
imperialismo do dia de hoje.

A casa quedou-se em silêncio.
Em silêncio de mentira, um silêncio
rompível e corruptível, facilmente
dessacralizado.

As almas abriram as asas.
Os corpos abriram as celas.
As esperanças foram passear.

O dia de ontem ainda existe na vaga memória
que insiste em não se entregar ao ofuscante
badalar dos relógios digitais.

As teclas são esmagadas.
A poesia mata a prosa.
O calor mata o sossego.
Os dedos estalam, contorcem-se, mexem-se.

A poesia é a mesma.
A necessidade é a mesma.
Os leitores são poucos,
a importância é nula.

A poesia se instaura e instala-se.
Os corpos descansam, esperançosos,
as almas rodeiam as proximidades.

Pode-se não ser totalmente feliz.
Mas tenta-se.
Com fervor.


11/01/2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

NEM TENTE ENTENDER

NEM TENTE ENTENDER

Dentro da solidão, da emoção,
do calor da falta que tudo faz nas
minhas mãos, do surpreendente apego
do meu coração, da rítmica cadência

do meu bordão, é simples entender
o que me faz ficar aéreo, voando,
alheio ao borrão de luz e cores que
movimenta o clarão do dia que se encerra...

Gosto tanto que no fim já cansei
quero tanto que no fim tanto faz
desejo tanto que no fim desejo mais.

A grande loucura é a mudança de tudo,
de hoje amada para antes amando,
antes atenta, hoje nem tenta!

Mas vê lá, olha o que vou te dizer:
quebro o soneto para poder escrever
que o ciúmes que sinto é maluco, maluco,
te chamo, te sinto, te pinto outra, te imagino
solta, te quero minha.

Por quê?