- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

IMPRESSÕES APÓS A QUEDA DE UMA PEDRA DE MOINHO

IMPRESSÕES APÓS A QUEDA DE UMA PEDRA DE MOINHO


Deveria eu gritar de felicidade e jorrar por aí
em cânticos de alegria, sorrindo e mentindo
que não sinto um ardor bem louco no peito?

Tenho vontade de não ter medo, mas quem foi
que te disse que isso é fácil?
Vou renascendo no milagre do abraço de Deus,
conhecendo a mim mesmo, estudando minha filosofia,
descartando minha própria teologia para abraçar o necessário,
o verdadeiro, o sussurro do Amor.

Deveria eu pular de felicidade.
E sinto que seria bem fácil fazer isso.
Mas agora quero ficar quieto,
sozinho e calado,
sem nada mais a dizer.

30/12/2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

VAI-SE VIVENDO

VAI-SE VIVENDO

Vai-se vivendo no escuro,
no choro escondido,
no beijo ressentido,
na raiva possuída,
no escárnio cuspido,
na lâmpada obtusa.

Vai-se vivendo com o tapa não dado,
o grito calado,
as verdades engolidas,
a dança fulminante,
o riso incessante.

Vai-se vivendo sem emoção,
sem amor, no calor do medo,
na monotonia, sem a beleza
do sobressalto, sem o simples tédio.

Vai-se crescendo com farpas enfiadas
nos dedos, nos olhos, na língua,
vai-se vivendo sem morte,
vai-se vivendo sem força
vai-se esvaindo em preces,
sem delongas, sem mentiras (mas sem verdades).

Vai-se vivendo.
Um dia após o outro acordando e dormindo.
Indo. Só indo. Indo e vindo.
Sem a emoção de abrir os olhos, contemplar o teto empoeirado e
sorrir.


16/12/2009