- guia de um ordinário vernáculo -


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

ESSAS COISAS

ESSAS COISAS

desalinhastes um mundo por tantos anos
e agora negas as últimas palavras não ditas
capricho dos ditadores que sempre levaram
o amor fechado no punho
e o punho se dizia de ferro

essa palavra minha tem o poder
de retornar o tempo às caixas abertas
e você costurando os dentes
sentado num trono de ordens
impávido, impaciente e Pai
o cadáver da rigidez

os ombros sangram água
mares escorrem pelo corpo seco
e você observa as velas apagarem
movimentando moinhos e ajuntando ventos
e as águas destroem o mundo

as palavras governam as ilhas
e a falta de voz não me deixa andar
aguardar algum deus aparecer
e me salvar das suas garras duras e frias
é admitir que o apocalipse está aqui
com suas trombetas e flechas
e o corpo dos santos nas trevas

as flechas nunca enviadas
as feridas nunca fechadas
nossas bocas são relicários esquecidos
e o coração está parado
capricho dos deuses que sempre levaram
o amor fechado no ferro
e o ferro feria o punho

com que direito,
imperador das minhas dores,
governas meus medos com
fogo e destruição
se ontem reinavas Titã
sobre as águas do degelo
tácita traição
dos amores que sempre levaram
o ferro fechado no amor
e o amor se dizia de ferro

mas acabou?