- guia de um ordinário vernáculo -


quinta-feira, 24 de maio de 2012

DO TEATRO

DO TEATRO


antônia, ele quer fazer teatro. que você não deixe. depois se perde e vira um desses. vê, vira um desses, deus é mais. acho que foi aquele professor que deixou ele assim, com as ideias doidas. meio assim, não sendo. meio deslocado. foi o teatro, certeza. pode ter certeza. antônia, não deixa esse menino fazer teatro, antônia. não vê que depois vira um desses e depois adeus, se perde sendo mais um vagabundo por aí? depois, antônia, vão dizer que a culpa é sua. e que vergonha não vai ser, hein? que vergonha, antônia, pra nossa família! se seu filho der pra ser desses. atores. e... ai, não quero nem pensar, que tristeza pra um pai, pra uma mãe. ai, antônia, minha filha! eu te dei uma boa educação, antônia, educa esse menino! vai que ele toma gosto e acha bonito viver de ar, antônia. ele já é estranho, antônia. ele gosta de poesia. dá juízo, educa, limita! antônia!

ele quer fazer teatro, antônia!

não deixa
esse menino
se libertar.

 não deixa ele pensar, antônia.



não deixa.

ele
s   a   l   t   a   r   !

terça-feira, 15 de maio de 2012

DO VIVER EM AMOR


DO VIVER EM AMOR

há que se tropeçar.
quem é que sempre fica em pé?
na nossa vida,
terra e pó e sorrisos e choros.
então vê, não há que se
ficar sempre em pé.
renunciamos a divindade
e então o nosso coração bateu.

há que se errar há que se chorar.
foi por isso que não quisemos mais
ser anjos arcanjos santos.

perdoamos e então
somos pastores e marinheiros
construímos pontes e dores:
somos amores.

há que se perdoar.
por que erramos.
por que tropeçamos.
por que queremos, amor, e confiamos.

15/05/2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

DISCERNIMENTO INCÔMODO


DISCERNIMENTO INCÔMODO

se sou essa pessoa assim
sazonal
que muda de humor conforme
as nuvens que cobrem meu caminho
e prefere o frio mas quando o frio vem
faz uma oração pelo calor que sufoca,

se sou essa pessoa assim
instável
que de tanto proclamar dogmas
encontrei a pedra angular que nem os
pedreiros insanos loucos rejeitaram
e agora nem a brisa me balança,

se sou essa pessoa assim
ferida
pela chuva que molha meus sapatos
e pelos ácidos comentários que dispersam
meus contatos com as inúteis forças
que engrandecem qualquer coisa,

é bem claro que os dias não
se quedaram maduros nos galhos
das minhas mãos

e que a minha poesia
é como a minha vida

ainda está
em
formação.

10/05/2012