- guia de um ordinário vernáculo -


terça-feira, 31 de maio de 2011

RENDIÇÃO CONSTATADA

RENDIÇÃO CONSTATADA

a total ilusão
se torna minha guia
nessas noites tão frias
em que sua nunca
sentida presença me desafia

a total desilusão
me tortura de forma
tão lenta e macia
que me faz implorar
pelo ápice pelo clímax
pelo fim dessa eterna lida

a total solidão
que me mastiga
me tira o viço
me tira o brilho
me tira a voz
e meus conhecidos gritos
me rouba do hoje
me coloca no ontem do ontem
me perde no horizonte
me deixa louco
me cospe morto

escrevo por hábito
respiro por passo marcado
sorrio por não saber
como continuar meus atos

pode ser o efeito
da dor
do frio
do desejo
e da insanidade

mas, meu amor, eu não vejo
motivo em continuar vivo
se posso morrer
de vontade
e de saudade
de você

31/05/2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

TRATADO DE TEOLOGIA

TRATADO DE TEOLOGIA

a ausência que constatei
logo ao acordar
nascimento de uma vida
feita de retorcimentos
e o entendimento, a percepção
a construção de certa linha de pensamento

morto, não encontro vida após o desamor
não encontrei recompensas nem os encantos
vários, prometidos a mim por séculos de profetas
e de poetas santos que cantam desde o mais
belo dos cânticos dos cânticos
(não só os de salomão),
mas também não os procurei

alcanço e canso da iluminação
prefiro o escuro o frio a solidão
e a negação de todo o verso vegetariano
há o espírito, há os que foram carcomidos
pelo vírus inibido e falso tímido do Sem Sentido

versos que possuem a santidade com uma
invejável facilidade me saem de dentro e não
me tiram um isso da dor de morto, vê?
percebo que é real quando não consigo sorrir
percebo que é real e eterno até o fim do dia
quando não existe a vontade de escrever

mas me obrigo: minha busca minha aventura
me valida me justifica perante a corte, me ajuda
a arquivar o processo das santas dores
tribunal Daquele que aos poucos vou
compreendendo e bendizendo em voz baixa
para não assustar quem ainda não entendeu:
sou altruísta e pouco me importo com meus
companheiros de bingo grito grito venço

só encontro a paz quando não entendo
e Dele não me aparto
eu quero é ser alado
alado do seu lado

falar de forma anárquica sobre o sentido de Deus
me faz sentir um ardor de coisa nova de libertação
de certeza de excomunhão mas de uma nova e mais
pura união com Aquele que me ajuntou em mim

se ainda temo e sigo os mesmos preceitos
e defendo com o fogo os mesmos anseios
e se amo de forma firme os dogmas aceitos
me provo o mesmo com ideias novas mas antigas
me sinto fora mas me vejo dentro com uma recíproca
totalmente verdadeira

eu mesmo iniciei meu processo
de canonização
a gratificação
de captar que fuga desse presente terror
é falar e falar loucamente
não me importar e (a)teologar sobre
Aquele
Outro
Amor.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

VELHO PAPO ou SERÁ QUE SEREI ou MEDO ou DESEJE!

VELHO PAPO ou SERÁ QUE SEREI ou MEDO ou DESEJE!

hei de ser cúmplice
dos maus tratos que
me fazes?
há muito tempo me
descobri escravo do
instante e (des)confio no
poder da poesia

hei de ser sempre o
mesmo que você enterra?
falta-me a coragem e a força
para agora travar uma luta enorme
mas continuo fogo (fátuo)
recusando-se ao inacabado

hei de continuar conflito infinito?
há o desejo e a vontade de procurar
mas o indômito medo de sua altivez
e do desprezo que você me reserva
me queda paralisado: calo

hei de ser para sempre solidão?
não, não caio nessa ilusão
mas sou todo - nesse momento -
um inútil furacão:

não destruo um centímetro de sua
incrível
(e por isso mesmo ridícula)
(falta de)
convicção

mas teimo em sonhar com
a vontade de amansar-te
de enlaçar-te de desperdiçar-te
de enfim amar-te amar-te com uma
força tão grande e surpreendente
que você
quando experimentasse
diria:

- e por que demoraste, fazedor de arte?

20/05/2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

REVIRA VAI E VOLTA

REVIRA VAI E VOLTA

há uma censura na minha
forma de sentir e agir o presente

cuido para que o verbo errado
não entregue o verso
que tento esconder de você

sorrio e grito
efusivo
mas continuo morto
passivo de tudo
terra improdutiva e perdida
tudo plantando nada dá

meu desejo é escrever
abertamente sobre o Não
e sobre o convencimento que
meu coração impiedoso insiste
em não acreditar:
me prendi e me joguei no mar

mas há a ditadura imposta (por mim)
que persiste em me derrotar
desminto os gestos do dia e me rendo
cativo que não consegue se revoltar

vejo a felicidade
que eu poderia ter
enlouqueço estremeço
não obedeço

a questão é que
me vejo
humano

me querendo
insano

terça-feira, 10 de maio de 2011

ROMANTISMO RENITENTE

ROMANTISMO RENITENTE

você vai ser
mais um amor
que jamais tive
e estou me esforçando
para pintar o teu retrato
e colocá-lo na vasta
galeria dos suspiros passados

devo isso ao seu amor
devo respeito a quem te tem
devo amor ao meu próprio amor
vago amor que me tenho também

renuncio
abdico
pulo as liturgias do luto
o odor sonoro e fúnebre
dos adeuses

com esse poema árido
(pateticamente
ridiculamente
renitentemente
romântico)
me despeço e ouço Bach:

não aguento mais
esperar
e
inventar

10/05/2011

sábado, 7 de maio de 2011

MALABARES

MALABARES

vou fazer
malabarismo
queimar o circo

andar no arame
me fechar na jaula
dormir com o elefante

vou roubar o mágico
encantar meu lado
deixar de atos falhos

vou encarnar o palhaço
rir dos meus tediosos casos

vou fugir da caravana
me deitar na minha cama
esquecer desse tolo drama

vou abrir falência
já rasguei a lona!

cansei de ser
dono de circo

virei artista
equilibrista
malabarista:

vou dar
meus pulos
juro!

domingo, 1 de maio de 2011

DEFINIÇÕES II

DEFINIÇÃO VIII

poetizar
é tricotar
as meias que vão me
aquecer quando eu
não mais conseguir
encontrar você

DEFINIÇÃO IX

teimosia
é abrir os olhos
e imaginar

DEFINIÇÃO X

inconformismo
é dormir sozinho


DEFINIÇÃO XI

paixão
é abrir mão
da normalidade
e por prazer
alegar
insanidade

01/05/2011