- guia de um ordinário vernáculo -


sábado, 25 de julho de 2009

SONETO DA INSEGURANÇA

SONETO DA INSEGURANÇA

Oh! Como é triste essa
vaga tristeza e ansiedade que sinto
ao pensar em ti! Que roucos
tormentos me fazem chorar de

desalento nesses dias tão claros
que vão passando, lentamente...
Estou perdido, enlouquecido no
labirinto sem saída, ninho de

amor com sarcásticos Minotauros
que me sugam para a sombra.
Sou Penumbra, esquiva, e busco o sol

(você) como um naufrago moribundo.
Oh! Como é triste essa minha insegurança,
mas como ela me une a ti!


14/07/2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

SOBRE ESSAS COISAS TODAS QUE SINTO HOJE

SOBRE ESSAS COISAS TODAS QUE SINTO HOJE

Caminhando nas ruas escuras,
de noite, não se encontra nada.
É tudo invenção, entenda isso, mentiras
de mentes ridículas e temerosas, que
acham que demônios andam travestidos
de humanos pobres, podres, pedintes loucos.

Caminhando nas ruas desertas
não se encontra nada.
Nenhum príncipe desse mundo ou
de outros mais sombrios, só o
frio de uma saudade muito teimosa,
idiota, anjo caído, doce morrer.

Essas loucuras, essas angústias,
o mundo dá voltas e eu
no meio dele, ridículo carrossel,
triste escarcéu, um caos nesses
corações.

E só a pena,
poetisa,
pode me fazer sorrir.

- Cronos continua devorando divindades.

É só esperar!...


08/06/2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

FALTA ALGO

FALTA ALGO

O caminho está vazio e não tenho
nada a declarar. A noite é branca
e não convida nenhum pensamento,
nenhum som invade de verdade

o meu coração. E eu continuo
como o tolo romântico incorrigível
que acha que todos os sentidos e
mentes e o mundo deságua no

coração. Coração não existe,
são apenas invenções, ilusões,
tantas ilusões e o mundo normal,

cruel e eu continuo a ser esse
tolo romântico incorrigível que não
escreve um poema sem se lembrar de amor.


8/07/2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

UM PASSEIO NOS SONHOS III


UM PASSEIO NOS SONHOS III
para flávia nosralla, sempre e sempre...

“O mar batia em meu peito, já não batia no
cais.

A rua acabou,
quede as árvores? a cidade sou eu

a cidade sou eu

sou eu a cidade

meu amor.”


(coração numeroso,
Carlos Drummond de
Andrade)


Foi aqui, e eu passeava pela rua de madrugada. Estava triste, bem triste: uma fina dor rasgou minha consciência e abafou meus pensamentos. Essa cidade onde todos os dias é carnaval estava quieta, deixou que eu andasse (cambaleante) pelos becos, pelos largos, pelas ladeiras... Eu ouvia um choro, um forte choro que não vinha de nenhum lugar. Que dor! Que dor fina! Que dor tão dolorosa!

Foi aqui, e nenhum carro atrapalhou o luar. Sentei-me nos degraus do cruzeiro duma igreja de ouro e esperei a violência dos meus sentimentos. Estava só! Tão magnificamente abandonado e imerso na solidão que não ouvi o ruído que cortou a noite: atrás de mim uma porta se abriu.

Demorei a criar coragem para olhar. Ouvia apenas uma música, um a música bonita, uma música quase divina. Lentamente fui virando-me sem sair do lugar, e quando meus olhos se fixaram na figura vestida de branco que estava sorrindo na porta da igreja a orquestra que existiu na praça, armada e preparada apenas para nós, começou a delirar.


Foram sons tão intensos que flutuei em sonhos até ela. E ouvi o tango, a valsa. Ouvi o samba, o pagode. Ouvi o funk, o bolero. Ouvi o rock, ouvi o jazz. Ouvi tudo e mais um pouco. Ouvi a harmonia e ouvi o silêncio. Tudo era meu, era dela: éramos de Deus e do mundo. Tocamo-nos na frente da igreja que derretia em ouro... E nos amamos intensamente apenas em olhares. Não existia dor, não existiam lágrimas, só eu e ela e Deus e o mundo e o nosso beijo. Então estávamos na beira do mar e a água salgada limpava os nossos pés.


As estrelas, a lua, o mar. Uma névoa atrapalhava a vista e nós simplesmente existíamos, cheios de amor e paixão, de danças nunca ensaiadas que agora eram desenhadas na areia da praia.
O vestido branco era brisa, seus cabelos o vento da minha vida. Meu único objetivo era beijar, tocar os lábios da minha deusa, musa jovem.
- Vamos andar, rapaz... – disse a menina-moça-mulher, com um meio sorriso. Mas eu segurei sua mão e a enlacei em meus braços, esses meus braços que cabem todo o amor do mundo.


Mas o sol foi nascendo e o nosso abraço apertado foi sumindo, desintegrando nas areias que voavam em torno de nós. Após instantes eu estava só, com a promessa de um “até breve” escrito na espuma do mar...

Voltei à cidade que amanhecia, agitada.
A cidade sou eu?
Eu? A cidade?
Ah! Meu amor!...



06 e 07 de julho de 2009