- guia de um ordinário vernáculo -


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A CAMINHADA DO SOL

A CAMINHADA DO SOL

a areia fina presa
como diamante
entre os dedos tortos

o suor do trabalho pesado
de se livrar de um peso morto
o abandonar de um velho corpo
ampulheta cintilante e febril

o rastro de sangue
me embaraça ainda os olhos
mas pressinto a pele marmórea
lento na solenidade de sua funda

a sua voz é uma busca
pelo ar que trago na bilha seca
meu corpo de areia
indo de encontro ao novo

lento esperar
pelo morejar de uma montanha
que um dia reinou vulcão
e hoje dorme o sono do pejo
a paciência bíblica
dos cacos de jó

cintilam as minhas
cascas de pedra
nas mãos macias
que constroem

a biblioteca das águas.