- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 22 de abril de 2020

rezemos pelos que negam.

Rezemos pelos que negam: seu silêncio covarde é a pedra rolada de um túmulo vazio. Ouço murmúrios de peste, fome e morte. A guerra se apresenta clara nas bocas abertas dos ignorantes. Legiões, falam as bocas escorrendo ódio: acredito na morte! Digo morte! como se dissesse lucro. Os meandros do pensamento enferrujam os gestos de minhas mãos. Prefiro, dizem eles, ignorar.

Rezemos pelos que negam: o constante grito é pedra rolada de um silêncio covarde. Sustentam-se de mentiras porque reconhecer o caminho dos fatos é impossível. Algumas possibilidades se perderam quando renunciamos à busca, dizem. Só ousamos falar em balbucios indignos. No chão, traços de pensamentos mortos. Quem aqui reina é o ódio.

Rezemos pelos que negam, embora seus gritos covardes me espantem a capacidade de compreender. Busco as origens da minha preocupação, vejo vidas de professores colocando os instrumentos em minhas mãos: ouso pensar. Os livros são a busca pelos meandros. O passado palpita em minhas esquinas, a história se repete, é nossa sina. Ânsia. Busco a luta, não há! Ouço murmúrios de peste, fome e morte. Mas a mentira é a verdade, a verdade é uma só: é a ideia de criar realidades com nenhum olhar.

Rezemos pelos que negam, mas não digo bem-aventurança ou qualquer desejo de vingança. Rezar como lamentação. Como quem diz: rezei por você, mas ouvi murmúrios de peste e morte. Pensei, início, em um novo homem, nascido da experiência da dor. A palavra família, futuro, futuros! em uma casa comum. A peste não é a panaceia possível para os escravos que somos. Há raios que silenciam esperanças: estamos atravessados pelos horrores da realidade, um faixa verdeamarela cavando covas sobre nossos costados. Tudo está bem.

Rezemos pelos que negam, porque seus gritos de omissão escondem ódios antigos. É só reparar.