- guia de um ordinário vernáculo -


domingo, 5 de janeiro de 2014

ESCRITO A FÓRCEPS



ESCRITO A FÓRCEPS

deslizo e não prossigo
caminho e não consigo
abrem-me as comportas
deus me fecha o portão
a escrita é a minha
verdadeira maldição

sinto o impulso e o bloqueio
a dor de gozar o gozo preso
meu coração que palpita
um fumo preto
e as espirais de letras mortas

arranco os poemas forçosamente
às vezes suo e me canso vencido
escorrego para dentro do abrigo
o esquecimento que carrego comigo

o poema que não me consome
e me deixa com esse gosto
de trabalho inconclusivo
ainda não é meu:

resta sentir na boca
da alma aquele soco
que incendeia as
tentativas dolorosamente
primitivas:

o poema que não dói
ainda não sofreu.