ESCRITO A FÓRCEPS
deslizo e não prossigo
caminho e não consigo
abrem-me as comportas
deus me fecha o portão
a escrita é a minha
verdadeira maldição
sinto o impulso e o bloqueio
a dor de gozar o gozo preso
meu coração que palpita
um fumo preto
e as espirais de letras mortas
arranco os poemas forçosamente
às vezes suo e me canso vencido
escorrego para dentro do abrigo
o esquecimento que carrego comigo
o poema que não me consome
e me deixa com esse gosto
de trabalho inconclusivo
ainda não é meu:
resta sentir na boca
da alma aquele soco
que incendeia as
tentativas dolorosamente
primitivas:
o poema que não dói
ainda não sofreu.
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