- guia de um ordinário vernáculo -


quinta-feira, 6 de julho de 2017

LINHAGEM

LINHAGEM

escrevo poesia
como quem bebe vinho
aquele outro, o sangue
a taça cheia de carne

escrevo
como se o vinho fosse água
e minhas águas são uma manjedoura

escrevo como se fosse fonte
e pedras rolassem
dos meus dedos quietos
porque eles repousam
no meu colo
quando eu sento como uma
Grande Mãe
e as palavras me sugam
como meus filhos

escrevo poesia
como se o último gole de vinho
fosse diferente do primeiro
e a ânsia que resvala em minha boca
fosse a resposta definitiva
cruel e sincera
revelado que minha taça
são meus ossos
e eu bebo a mim mesmo.