- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 31 de março de 2010

DO MEU REPETITIVO APELO AO SEU CORAÇÃO

DO MEU REPETITIVO APELO AO SEU CORAÇÃO

Seu erro!
Seu erro, ah, o seu erro,
é achar que a Finlândia é a solução
para o que (não) sente no coração.

Seu defeito,
ah, sim, seu defeito,
é não entender que eu preciso
sofrer e não-sofrer, que eu preciso
amar e bemamar, porque sempre repito
meus textos na louca parolagem da vida,

e sempre repito as metáforas nos velhos
saraus da nossa história, e o seu erro,
ah, o seu erro, é não entender o que quero
dizer quando escrevo.

Rasguei meus escrúpulos,
o ofício que me foi dado, renego,
a missão que me foi imposta, declino,
a minha vida abandono ao infinito e
não vivo não vivo
vivo esperando o dia a hora o minuto
da consumação, da confirmação, da exaltação
dos sonhos.

Sou frágil, sim.
E você, sim, você! escolheu cuidar de mim.
Não me deixe, enfim, achar que não
tenho você aqui.

Diga-me e repita-me e grite
que me ama
que me ama
que me ama.

Escreva-me.
Descreva-me.
Desenhe-me.
Entenda-me.
Encante-me.
Surpreenda-me.

Ame-me.


31/03/2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

SAUDADE

SAUDADE

O que me falta para ser feliz?
O que me impede de sentir e não-sentir?
O que me impede de ultrapassar as palavras,
a falta de minhas asas?

Oh, Deus, não me cansarei de me lamentar,
mesmo que o sol esteja alto e que pare
de chover, porque a opressão que sinto no
peito e nos olhos não tem outra causa:

Como amo!
Oh, céus, como amo!
E como esse amor é tão estranho!
Facilmente ferido, infinitamente incurável...

Que sorriso posso esboçar diante da impotência?
Nenhum. Mas talvez tente de novo amanhã.
Quando pararei de chorar a ausência?
Nunca. E talvez nem tente de novo amanhã.
Por que me é imposto esse duro sofrimento?
Não sei. E talvez nem pergunte amanhã,
nem depois de amanhã,
porque algumas perguntas foram feitas
para não terem resposta
e criarem um enorme vazio no peito de quem
ama.

terça-feira, 9 de março de 2010

SER-TE

SER-TE

Buscar-te.
Ter-te.
Sentir-te.
Amar-te.
Cantar-te.
Dançar-te.
Tocar-se.
Sonhar-te.
Beijar-te.
Ver-te.
Viver-te.
Degustar-te.
Digerir-te.
Percorrer-te
Acender-te.
Venerar-te.
Falar-te.
Esperar-te.
Esperar-te.
Muito esperar-te.
Surpreender-te.
Calar-me.
Ouvir-te.
(D)existir-me.
Existir-te.
Em silêncio
transformar-me.
Transformar-te.
Sermos unidos
dois olhos quatro olhos duas bocas dois narizes bilhões de células um só coração.
Sermos
unidos.
Um só.


9/03/2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

“QUE MEDO ALEGRE, O DE TE ESPERAR”

“QUE MEDO ALEGRE, O DE TE ESPERAR”*

Leia esse texto bem devagar. Leia esse texto bem baixinho. Leia com a sua alma. E se você gostar dele, mande um mensageiro de fumaça me avisar.

Começo essas linhas sem saber como chamar-te. Não posso escrever “meu amor” pois agora és amor de outro. Não posso escrever “petit” porque minha petit morreu... Enfim, decidi começar chamando-te de “menina” – embora já sejas mulher – pois como “minha menina” você ficou eternizada em mim.

Minha querida menina,
Como você bem sabe meus textos não tem propósito. Eu apenas obedeço às ordens do tirano do meu corpo, o coração. Escrevo em louvor ao seu aniversário, escrevo em louvor a Deus pela sua vida. Hoje você completa 16 anos. Encho-me de alegria, embora ainda sinta no fundo o ardor enlouquecedor da tristeza. Minha já não és, mas tampouco você é de outro. Você não pertence a ninguém: você se pertence. Você é sua, independe da vida ou dos sentimentos de terceiros. Você veio ser luz na escuridão dos que a buscam, você é serenidade na revolta dos que a cercam... Embora eu não seja um descodificador dos teus mistérios sempre me aventuro na loucura de tentar desvendar-te.
Deus é simples. Pergunto-me então: como Ele pode ter criado alguém que é um mar de mistérios? Paro um pouco e logo recebo a resposta transmitida por um serafim: você também é simples, você é paz, eu é que sou ineficiente na alegria de te entender.
Petit, você não morreu para mim. Você vive aqui todos os dias. Não há momento que eu não te reviva, que não pense na sua ausência. Vigio-te de longe, pois está distante o dia que deixarei você partir.
Desde o nosso provisório adeus (na vida, minha pequena, nada é definitivo) declinei (não por descaso, mas por opção à felicidade) a todos os poemas que seriam escritos para você através de minha caneta. É uma pena, pois você é a personificação de minha felicidade... Enfim, agora que vive nova história ainda liga para os versos desse tolo?
Entendo a sua felicidade e juro que não quero criar na sua alma alguma nostalgia. Vivo bem e quero que você esteja maravilhosamente feliz. O amor permanece de uma forma ou de outra: transfigura-se em saudade, mas continua o mesmo em sua essência.
Há muito que falar, mas já escrevi além da minha alma, minha menina profundamente querida, e esgoto-me de definições, de metáforas, de poesias... Só tenho o sentimento. Como fazer você se sentir amada? Sinta a magia das minhas linhas, ouça por alguns minutos as nossas músicas, permita-se me amar por um instante, volte no tempo e... Sinta. Sinta. Sinta o amor. Sinta...
Penso agora que o nosso elo é forte demais para desaparecer. Nossa verdadeira relação está alheia à realidade. Não importa se você está dançando com outro, ou se eu estou carente de alguém que dance comigo. O que importa é a metafísica do nosso amor. Somos imortais. Só nós dois existimos, no fundo, na alma. O resto, minha cara, é passageiro.
Enfim, minha menina: alegria! Alegria, minha pequena deusa, meu grande, meu único amor... Hoje, querida de minh’alma, só tenho uma coisa a gritar: que os anjos digam amém! Parabéns! Eu te amo! Saúde! Dinheiro! Amor! Felicidade! Alegria! Realização! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo dezesseis vezes. Eu te quero trinta e duas vezes! Eu te espero sessenta e quatro vezes! Desejo sua felicidade infinitamente!
Parabéns, Petit. Até o próximo ano.

Eu estou aqui. Eu estou aqui.
Cuide de você,

Matheus M.

* Clarice Lispector.