- guia de um ordinário vernáculo -


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

OS POEMAS SÃO PARA VOCÊ

OS POEMAS SÃO PARA VOCÊ

Em algum momento entre ontem e hoje
nós nos perdemos. Nossas mãos se soltaram
suadas e cansadas e caíram desanimadas
ao lado do corpo cansado, da mente suada

dos passos pequenos, da confusão dos pensamentos
que amamos e odiamos e não sabemos o que
pensar estamos na multidão perdidos sozinhos:
telepatia, antropofagia, coração carcomido, roído por

nossos vermes de estimação.
Oi! Oi! Onde está você?
Oi! Oi! Quero você, quero te ver!
Oi! Oi! Quer me conhecer?

E nós não nos ouvimos, mas também
temos que gritar e minha garganta dói.

Desculpe-me!
Desculpe-me!
Estou apaixonado pelo mundo,
seus sentidos, suas pessoas.
Quero tudo, não só você
quero só você e quero
o mundo todo você.

Tchau,
Tchau,
é necessário cantar!

Tchau,
Tchau,
preciso desesperadamente amar.


02/09/2009

sábado, 20 de fevereiro de 2010

PARADOXO

PARADOXO

Se diante desses sentimentos
(que em outros anos me dariam enorme sofrimento)
mantenho-me impassível a todo tempo,

e se entendo que o enorme amor que trago
aqui dentro está preso numa cela de mosteiro
sem, no entanto, se alterar, percebo que não

sofro por você por não ser possível amar
sem esperar, e se tua paixão já não existe,
e sendo inexistente concluo que não amo
por seres outra pessoa,
não a mesma de outrora,
não a mesma alma,
não a mesma essência,

entendo tudo diante dessa verdade ainda quente e sorrio tranqüilo pois o motivo disso tudo não decorre dos meus atos mas da sua falta de amor...!


20/02/2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cartas Errantes IV

http://asminhasbreguices.blogspot.com/2010/02/cartas-errantes-iii.html

Minha menina,

Se me permite, devo responder a sua carta pelo fim. Esses seus últimos parágrafos constituíram para mim uma verdadeira tábua de salvação. Estou constrangido de saber o quanto você me conhece. Tenho vontade de enquadrar o final de sua correspondência e colocá-la ao lado de minha cama, para que eu possa todos os dias me conhecer um pouco mais.

Não contei para ninguém os verdadeiros sofrimentos de minha alma, mas acho que você merece saber os motivos de minhas lágrimas: sim, o problema vem de meu coração, como sempre. Só que dessa vez, minha querida menina, ele superou todas as tempestades que já enfrentei nessa minha curta vida. A dor que senti não é comparável. Perdi a caprichosa do meu coração, a minha petit, meu amor maior. Enfim, depois de tal desilusão fica difícil viver, mas estou caminhando. Já não sinto dor, sinto apenas um grande vazio. Acho que estou deixando-a partir. Hoje estou melhor que ontem, amanhã estarei melhor que hoje... Como disse São Paulo: “o amor é paciente”. Espero, então.

Se agüentei firme no meio desse dilúvio de adagas afiadas foi por amor à vida, essa volúvel. “Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!”, como exclamou Mário Quintana. Tenho esperanças no amanhã e fito o horizonte esperando um novo dia. Quem sabe ele não me trará sinais de fumaça vindos de uma nova alegria?
Mas deixemos de lado as reminiscências de um menino-velho e vamos ao seu delicioso sonho. Que narrativa fantástica! Tão complexa que precisei lê-la três vezes. Eu vivi e senti cada palavra em minha própria pele. Consigo me imaginar nesse seu sonho (belissimamente traduzido em palavras). Sinto a dor e hesitação dessa mulher. Diante de um novo caminho, o que fazer? Você, mais uma vez, consegue desvendar os mistérios da alma de forma brilhante. Qual o seu segredo para alcançar tal sucesso? Eu sou essa sua protagonista. Uma frase me chamou a atenção: “Carregaria a partir daquele dia a marca sutil, porém notável, das decisões tomadas cegamente”. Agora é a hora d’eu gritar feito um maníaco louco: “quem lhe contou minha vida? Quem lhe contou minha vida?!”.

Em determinado momento, na narrativa, a noite chega. A Noite Escura avança impiedosa. Diante de tal fenômeno repetimos a velha e costumeira pergunta: “o que fazer?”. Ela está determinada a continuar a andar. Eu também. Contudo, logo ela percebe que é difícil caminhar sozinha. É quase impossível progredir sem companhia. A solidão sufoca a alma, querida menina, e você entendeu isso como ninguém.
Apoiarei-me, enfim, nos meus amigos, na minha família, no meu Deus sempre presente. Com eles, é bem mais fácil caminhar... Mas, como você mesma diz, a história de sua pequenina aventureira não acabou. Para mim, esse final é tão digno que me enche de esperança. Aguardo o desfecho da história, pequena amiga. Mande-me logo.

Despeço-me com saudades,

E.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cartas Errantes II

http://asminhasbreguices.blogspot.com/2010/02/cartas-errantes-o-inicio.html


Minha querida,
Devo confessar que ao ler sua carta eu ri e chorei. Ri por sermos tão iguais e chorei porque suas reflexões rápidas foram tão profundas que tocaram no âmago de minha alma dolorida. Isso deve parecer estranho, mas a verdade é que estou muito sensível por esses dias.
Passei o dia lendo e sofrendo. Sofrer é uma coisa muito ruim. Dá uma dor forte no peito, uma vontade de gritar, a respiração fica suspensa por um instante, o corpo todo se contrai e permaneço assim por uma eternidade... Aí então eu falo “ai!” e choro. Isso se repetiu várias vezes hoje, e estou cansado.
Então eu leio. Porque quando eu leio não existo mais para o mundo. Podem vir falar comigo e eu não vou ouvir. Amo ler deitado. Não sinto sono, muito pelo contrário: essa posição só me ajuda a entrar na história. Hoje li excessivamente “Cartas da prisão” de Frei Betto. É sobre o tempo da ditadura, um horror. Estou me sentindo um preso. Igual a ele. Ai, amiga, que vontade louca de chorar mais uma vez.
“Já é carnaval, cidade! Acorda pra ver!”. Uma amiga cantou essa frase para mim há alguns dias. Enquanto a cidade brinca e é feliz nessa festa loucamente animada, eu morro. Estou numa tristeza de morte e só ler me faz ficar bem. Ler me faz esquecer de mim mesmo. Estou fugindo de tudo que me faça pensar em mim. Por isso não ouço música. Música é sentir dor.
Meu dia foi doloroso, querida amiga, e agora tenho vontade de jogar essa carta pela janela para que o vento possa levá-la até você. Um desejo incontrolável de defenestração. Eu defenestro, tu defenestras, eles defenestram, e assim até a loucura.
Sabe por que me sinto tão à vontade para desabafar com você essas minhas dores da alma? Porque “a perspectiva de me comunicar com alguém assim, sem as barreiras criadas pela familiaridade, é tão excitante!”... Aqui, nessa carta, posso dizer que estou prestes a morrer, choro três vezes ao dia, grito de dor várias vezes por dia, tento não pensar em nada o dia todo. É pior que tortura.
Você apareceu na minha vida na hora certa, mas agora eu preciso ir dormir. Vou fazer um longo passeio nos sonhos. Amanhã o dia será vazio. Só precisarei trabalhar na quinta. “Já é carnaval, cidade!”.

Com amor,

E.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ÚLTIMOS

ÚLTIMOS

Sou um agonizante,
passei a noite em claro,
passei o dia gemendo
(e chorando: eis um vale
de lágrimas).

Tudo se repete.
Outra vez
me vejo nessa situação,
mas agora é novidade!
Nunca senti essa aflição...

A verdadeira dor não permite
muitos pensamentos.

E o poema se perde nas minhas
entranhas doloridas.

Como é triste, meu Deus, viver!

12/02/2010

ÁSPERO

ÁSPERO


Na madrugada
soa falso
o estrondo
que estou fazendo.

Essas horas distantes,
que não passam,
gotejantes,
afiam amolam retalham
as arestas do meu.

O seu é teu,
proletária,
e

a minha memória
em você
são os versos

- tão belos –

que já não acredito
que são meus.


12/02/2010

apelo.

pelo amor de Deus, alguém me arranque o coração!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

eu hoje pra sempre

Um homem sentado num banco de praça. As pessoas passam e nem olham. Mal sabem que estão perdendo um lindo espetáculo. E um espetáculo doloroso. O homem se levanta e muda de banco. Ele é uma peça de teatro. Ele é puro drama, é drama fino, drama de qualidade. Ele é uma peça de teatro. E as pessoas passam e nem olham.
Um coração esmagado num banco de praça. E um homem sentado olhando as pessoas que passam e não olham. Elas passam. E ele olha. Ele busca alguma coisa para se distrair. Ele precisa encher a cabeça com outras coisas. Agora ele olha para os carros que passam na avenida. Os carros passam e não olham para o drama que está sendo representado naquele homem silencioso. O homem-silêncio não deixa escapar um gemido. Antes ele sofria em cima dos telhados, ele gritava. Agora ele chora, ele chora manso, ele chora bem baixinho. Agora ele sabe que as coisas devem ser feitas bem devagar. A vida é breve e ele pede aos deuses que habitam o céu a e terra alguma consolação.
O homem sentado num banco de praça sofre de uma forma nova. Ele tenta pensar em outras coisas, ele pensa em outras coisas, mas quando ele lembra ele fala ai! Ele fala ai! porque dói. Dói tanto que faz até uma lágrima rolar e mais uma e mais uma e ninguém pode consolar. Amor é uma dor, é uma dor horrível. Como seria bom deixar de viver!
O homem sentado num banco de praça sou eu. As pessoas passam e nem olham. E eu dou graças a Deus por isso. Essa dor é minha, essa dor me fará crescer, essa dor me fará. Me fará. O quê? Sei lá. Só sei que ela me fará.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ESTRANHA CORRESPONDÊNCIA III

Esse conto começou em 26 de março de 2008 (http://caras-palidas.blogspot.com/2008/03/estranha-correspondncia.html), continuou em 26/07/2008 (http://caras-palidas.blogspot.com/2008/07/estranha-correspondncia-ii.html) e agora volta a ter uma sequência.
E então, ele precisava de uma resposta dela. A escritora Ticiana Kilpp a escreveu: http://leavingontheline.blogspot.com/2010/02/resposta-estranha-correspondencia.html. É o fim perfeito para esse conto.



ESTRANHA CORRESPONDÊNCIA III

Docinho,

Estou muito irritado. Muito. Você não sabe o quanto. Já faz mais de um ano desde a minha última carta. E o que você fez? O que você fez? Mandou rezar missas pela minha desgraçada alma? HAHAHA! Faz-me rir, amor, faz-me rir.
Saiba que eu só deixei você em paz por tanto tempo porque tenho pena de você. Você é tão burra em achar que essas minhas cartas são meras... Falsificações. Não adianta ir à igreja, não adianta ir ao centro espírita ou ao candomblé! Meu ódioamor é maior que tudo isso.
Cada vez que você se deita na cama com um homem, eu grito. Eu grito e o inferno todo ri. O inferno todo ri de mim. Até o Poderoso Chefão já sabe que tenho uma mulher e não sou capaz de atormentá-la. Tenho uma viúva que se deita com outros e eu não faço nada! Minha reputação está sendo destruída por você, viúva patética!...
Ah, meu amorzinho, minha queridinha... Isso não vai continuar assim, não vai MESMO. Eu te dei um longo descanso, resolvi tentar te deixar em paz. Mas eu voltarei. Eu te atormentarei com sussurros de amor. Gemidos inefáveis às três horas da madrugada... Eu te enlouquecerei, eu te farei implorar pela morte. Pela morte pequena. Pelo desfalecimento em minhas mãos macabras... Amo você, amorzinho.
Enfim, aqui tudo vai muito bem. Todos os dias chegam mais pessoas. Está quase superlotadomuitocheio. Depois do terremoto no Haiti isso aqui virou um inferno! Hahaha, meu senso de humor continua intacto.

Ardo por você nesse infernal calor,

Até.




05/02/2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

pequenos

I

É uma tortura viver.
Viver sem conhecer, sem provar,
sem olhar, sem beijar,
sem viver você, só sem.
Sem ser fogo, ser tocha, ser fósforo,
Sem guardar você. Nas mãos, na mente.
Nas dobras da alma.
No meu jeito.

II

Sem cuidar de você,
sem falar com você,
sem te amar, sem gritar,
nem pensar, sem nem.

III

É uma tortura te ver
em outras pessoas e ouvir meu coração
cantando inúmeras coisas.
Ardo. Aquele ardor no coração.
Você ardia. Ardo só, vela solitária.
Ao não te ter, não tenho.
Não.

IV

Roubaram-me a noite.
É uma tortura ser.
Vou deixar de morrer vou viver para o nada
e serei infinitamente eterno.
É viver em confusão sem correr e te ter nos dedos.
Você largou o novelo e agora estou perdido
perdido no labirinto.
No limbo.
No recinto.
Sinto o vôo.
E o ar. E simplesmente
não vivo plenamente.
E ignoro.
E vivo.