- guia de um ordinário vernáculo -


sábado, 19 de junho de 2010

um poema pessimista

Há muito não escrevo
dessa forma tão livre e tão minha
uma escrita que é feita nesse lugar
onde tanta coisa se passou e tanta coisa
aconteceu.

Há muito não escrevo sobre você e sobre nós,
há muito não me sinto, há muito deixei de ser
aquela criatura melancólica e nostálgica que chora
chora
chora
a ausência e a falta da presença, a falta de uma palavra
- oh, como faz falta uma palavra! –
de um beijo amigo, de um beijo de mulher pra homem.

O desejo pulsa em mim, mulher, e a frustração pulsa em mim.
Sou o relicário de muitos sentimentos, de muitos olhares e pensamentos,
de muitas tentativas, de poucos sucessos, de muita espera, de muita espera,
um menino de muitas esperanças mas um homem de poucos atos.

Olha cá como anda o meu respirar: tão frágil,
como a vida pode se acabar num átimo!
Não entendes como posso tanto gostar da morte,
como posso amar o que não conheço e olha lá, eu te amo!

Quando de noite sinto o meu corpo se acender como
pira funerária, como monumento silencioso ao teu desaparecer
- ao teu nunca aparecer –
Não me vem a vontade de chorar que já me veio porque eu
já me acostumei com a falta de sua pessoa deitada na mesma
cama que eu.

Olha, mulher, sinto muito desejo em te ter,
em te possuir
de todas as formas que se possa possuir um coração
um corpo
uma alma,
mas eu quero que você entenda que eu escolhi o pessimismo.

É muito mais fácil dizer que não vou te ter.
Eu sou só de palavras, esses poemas mesmo de nada valem,
então eu te digo que não se deixe seduzir por palavras.

Você está longe, eu estou longe
há pouco dinheiro e pouca esperança

(e dizem que o Brasil não leva essa copa - uma lástima).

Então
esperemos nossa velhice chegar.


19/06/2010