- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A CONCLUSÃO DE EU-BENTO SANTIAGO

A CONCLUSÃO DE EU-BENTO SANTIAGO

Você foi minha Capitu e é muito complicado
para mim entender que a você de hoje já
existia na minha menina-moça-mulher de ontem.
Você foi semente nas minhas danças. Sementes não
vivem para sempre, mas como eu queria ter esse poder!
Amo a idéia de amar te amar amar sempre amar, mas no momento presente
futuro passado para sempre tudo tudo tudo que resta são
as músicas as danças os olhares palavras lágrimas risos
e poemas repetidos.

Você foi minha Capitu, eu cumpri bem meu louco papel de louco você sedutora de minha vida você foi bem sedutora isso nunca vamos poder negar e eu escrevo assim rompendo todo o sentido do meu poema maluco e que não deveria ter sido escrito para mostrar que meus doidos pensamentos ainda são seus
(embora não sejam para sempre)

E agora, o que resta é
a poeira da estrada?

- Vamos ouvir música, rapaz!


30/09/2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O JOVEM

O JOVEM

O jovem acordou, acordou cedo e sem nenhuma vontade clara de viver. Acordou e ficou deitado na cama até o sol aparecer e jogar seus raios fortes e mal-educados bem nos olhos do jovem tolo. O jovem deitado na cama pensou na vida enquanto os raios queimavam de brincadeira as órbitas dos seus olhos vazios, janelas para uma alma vazia, uma alma vazia, alma. Pelo menos ele tinha alma e toda a vontade do mundo de morrer. Não que amasse a morte e visse que a vida era feia, não. O motivo para a apatia da vida desse jovem, esse jovem, esse jovem deitado e sendo cozinhado lentamente pelo malvado sol era exatamente a falta de motivos para ser feliz. Não. Não era infeliz, não pergunte isso! Mas, tampouco, não era feliz. Estava num meio termo branco, vazio, oculto, estava em cima do muro na vontade de atuar nessa peça ridícula que uns insistem em chamar de vida.
O jovem estava acordado e enrolado em milhões de lençóis e via seu quarto. Ainda era cedo, muito cedo, mas o sol já estava fazendo o seu fantástico trabalho. O sol é uma falácia, essa história de que o sol vai voltar outra vez (amanhã) é mera ilusão. ILUSÃO, a vida é movida a ilusão. Se não a tivéssemos – pensava o jovem deitado na cama afogando-se em lençóis – nos jogaríamos no louco caminho contrário à moral, moral. O sol vai voltar outra vez, ilusão. Vida, ilusão. O jovem deitado na cama, cansado. De nada. Nada.
O jovem levantou-se e suspirou fazendo o mundo acordar. O mundo acordou e era cego, muito cego, totalmente cedo e as pessoas viam muito pouco, viam tudo que uns queriam que elas vissem. É confuso, é confuso, o jovem sabe disso, mas onde ele estava mesmo? Ah, sim, sua vontade de viver, de viver, de vencer a opinião alheia de vencer a raiva de vencer a irritação de vencer a angustia, a inércia de vencer algo, algo, de galgar, galgar o quê? de vencer, de vencer nada, de simplesmente amar viver e amar a prosa e amar a poesia numa orgia literária, letargia sem vírgulas pontos acentos e onde ele estava mesmo?
De tempos em tempos o jovem acordava com a impressão de que não vivia sua vida, mas vivia mil vidas. Mil histórias passavam diariamente pelos seus olhos, olhos abertos que deixavam tudo entrar: felicidade, tristeza, tristeza, amor, e nada mais e tudo que o mundo possuía em suas enormes gigantes translúcidas mãos.
O jovem no banheiro a água escorrendo sobre seu corpo. Seu corpo gordo, seu corpo magro. O corpo de mil vidas, um corpo elástico que cabe todas as ilusões concretas do mundo. Não do mundo! Do universo! Não do universo! DO INFINITO. Pleonasmo.
Tenho tudo, tenho tudo – pensava o jovem – mas de onde vem essa vontade de jogar minha xícara de café pela janela até alguém morrer, morrer, gritar e depois calar? Repetição, repetição, rotina, e o jovem se deitou molhado na cama entre os lençóis sujos da noite. O jovem solitário, o jovem e o jovem, o jovem que vive só, mas tem por companhia mil vidas, sim.
O leite. O açúcar. O café. Só falta um cigarro. Um risinho irônico. Ele não é assim, é claro. É branco, é branco. Poxa. Poxa. E falta essa vontade de escrever a vida desse jovem, então vamos para o final das divagações da vida desse jovem por que nada que eu escreva vai fazer VOCÊ perceber como esse jovem é como esse jovem vive e por que esse jovem sente raiva de algumas pessoas e ama outras e não usa nenhuma vírgula.
O jovem tomando calmamente seu café da manhã percebeu apenas uma coisa muito clichê, cotidiana, uma coisa que lhe fez ter toda a felicidade do mundo:
A vida é bela por que é incompleta: o objetivo do jogo é você completá-la.
E o jovem dormiu.
Tudo, mentira, é claro. É tudo inventado. Forçado. Sinto muito.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

NENHUMA FALÁCIA

NENHUMA FALÁCIA

Não veio, querida.
Não irás apreciar a torre
de babel que é minha vida.
Sou desunificado,
meu cérebro é um caos
gostoso, fogoso, moroso.
Sou desejo de mãos e
células e átomos e
existência.

Não veio, baby.

Não vamos espantar
o universo colocando fogo
um no outro,
não vou percorrer terras
inexploradas.
Pobre exilado fingidor...
Chega a realmente acreditar
que sente amor.
Oh, vamos afastar essas moscas e todos riam desse pândego é um pândego olha ele!

Não veio, baby.

Vou te amar nas metáforas, oh sim.
Não te tenho nas mãos
mas no coração

querida
baby
não veio.


22/09/2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

LUXÚRIA

LUXÚRIA

Bebo-me, como-me, seduzo-me,
sou o meu próprio manjar,
sou meus olhos de fogo que
ouvem mais que deveriam
ouvir,
ouvidos que buscar ver mais
que deveriam ver.
Desnuda-se em minha mente,
eu próprio, vamos eu e eu
nos amar na ardente sala
do inferno:
luxúria.
Dissipo preconceitos, sou meu,
rapaz, muitos doidos que se
deitam sobre nada,
o mel que escorre sobre
a boca fechada, a pele
marcada na triste sala
do inferno, amada:
luxúria, amada...
Sem demônios não sou nada,
sou página conservada, raiva
controlada, o gemido orante,
amada...
É só sonho, amada.
Loucuras, amada.
E tudo é de verdade:
mentiras, amada,
inferno, amada.
Minha Luxúria é você nua em pelo, amada, Uma Leoa, amada, totalmente desengonçada, esparramada, dilacerada, doida, amada.

Inferno, amada.


09/09/2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

OS AMANTES ou O MANIFESTO DE EDUARDO E VALENTINA

OS AMANTES ou O MANIFESTO DE EDUARDO E VALENTINA

E. – Trancafiei-te em caixa de pandora, menina,
por ser fraco demais para suportar teus envolventes
mistérios. És quase igual à Helena linda e quente como
Mãe-Héstia e viras Afrodite e me faz balbuciar o céu
em sonhos onde dilacero o teu ventre. És carne, espírito
e sedução.

V. – Odeio-te por isso, covarde. Juro pelas águas do
Estige que não te quero longe de mim, embora o fogo
que vem de suas entranhas me transmita o odor do
vinho, dos gritos silenciosos que varam a madrugada
na minha noite solitária. Vem comigo, meu Aquiles,
deixa de ser tão Narciso!

E. – Adentra meu leito, Penélope, esquece teu bordado
(falho) de amor, vem praticá-lo com fervor em letras e
sonhos entre lençóis separados. Torna-se nua, minha
Psique, faz-me feliz em minha estadia no Hades!

V. – Meu Hércules, torna-te louco a cada dia e estrangula
minhas mitologias, minhas fantasias, as nostalgias. Vai
condenar-se e serve a Hera, trabalha para mim, ardente
fera, meu deus helênico, meu Paris, tão lindamente tosco,
meu Céfalo que vives como o coxo Hefesto. Teus trabalhos
em leito fazem estrelas e constelações nascerem no corpo
de tua Valentina, infeliz amante, sua Melpomene.

E. – Minha Cassandra, profetizas corretamente mas em
ti não acredito. Viver longe de tua performace, de sua mente
e de tuas palavras? Antes morrer, Calíope, submegir-me em
raiva de Poseidon. Oh, Calipso, amo-te tanto que não a dividirei.
Enlaço minhas mãos em teu pescoço e tento te lançar à doce
Coré, Persérfone do reino abençoado.

V. – Eduardo, meu Apolo, o que fazes? Onde está a tua santidade?
No panteão do Olímpo tu viveste como meu Zeus, tão meu e eu
tão sua... Agora sou jogada às Fúrias! As Parcas minha vida embaraçam,
desgraçam! Meu mundo cai lentamente! Desgraçado! Mata-me, mas
vingo-me fazendo-te igual a Prometeu!

E. – Morre, menina, desfalece tua sina em meus braços, descansa o
teu furor no meu abraço, experimenta a pequena morte através de
minhas mãos... Oh... Fala comigo, Érato! Repito meus juramentos
de amor eterno, minha Prócris! Oh, amor! Tua lira morreu, calou-se
a voz de Eurídice...

V. – Não... Não ainda, Orfeu macabro. Oh, meu prazer, meu
fenecer...

...

E. – Morreste, enfim, menina. Já não choro nem te igualo
às divindades. Cansei de mitologias e parto para o realismo
de Luidgi, meu naturalismo em teu pescoço arroxeado.
A alma do heterônimo compreende as tuas marcas, minha
necromancia. Vive no silêncio da tua tumba fria com teus
vermes, que eu continuarei a viver com outra musa!

(Entra a Verdade vestida de negro e na face rosada do cruel Eduardo, amante solitário, aplica uma severa bofetada)

V. – Eu sou bela, ridículo.
Cuspo-te e espanco-te.
Morre tu, infiel, para sempre.
Morrer é esquecer.
O mundo morreu para ti, morrestes
para o mundo.
Morre esquecido, ridículo, por que
não sabes o que o amanhã trará...

CAI O PANO


08/09/2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

AVISO

AVISO

Ridículos sentimentos:
retirem-se da minha vida,
da minha alma e do meu
coração.
Nada de verdade em poesia!
Louvemos a falsidade e a
mentira e vamos todos
reverenciar novos senhores:
viver causa males irreversíveis ao espírito.
Amém.


03/09/2009

MINHA DOR, VIDA NORMAL, DESABAFO-SAUDADE, DIA COMUM

MINHA DOR, VIDA NORMAL, DESABAFO-SAUDADE, DIA COMUM

Quando passo por esse corredor
cheio de vozes e murmúrios
ouço farpas que machucam
essa minha consciência desgastada.

Meu coração não é muito grande,
só vê o universo em seu fim e grita
que gosta de dor e é bom em fazer doer.

Eu passo pelos corredores que
murmuram contra mim, minha
alma é cheia de defeituosas sinapses
e grita que gosta de dor e é boa em fazer doer.

Eu existo porque é inevitável viver,
mas não fico por que necessito, só
estou de passagem, sou peça decorativa
que gosta de dor e é boa em fazer doer.

Eu só sou abraços estranhos que rasgam
muitas epidermes e que fazem olhos redondos
e normais chorarem lágrimas de sangue:
olhos que gostam de dor e são bons em fazer doer.

Ê, ê, ê, meu corpo nu e feio,
meu corpo nu e lindo,
meu corpo no frio, no fogo,
meu corpo na noite, no dia,
meu corpo e a dor e as assas (cortadas)
ê!

É vida, é dia, é noite, é aurora, é corpo!

Corpo que é alma e que gosta de dor

e
é bom
em fazer
doer.



02/09/2009