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terça-feira, 8 de setembro de 2009

OS AMANTES ou O MANIFESTO DE EDUARDO E VALENTINA

OS AMANTES ou O MANIFESTO DE EDUARDO E VALENTINA

E. – Trancafiei-te em caixa de pandora, menina,
por ser fraco demais para suportar teus envolventes
mistérios. És quase igual à Helena linda e quente como
Mãe-Héstia e viras Afrodite e me faz balbuciar o céu
em sonhos onde dilacero o teu ventre. És carne, espírito
e sedução.

V. – Odeio-te por isso, covarde. Juro pelas águas do
Estige que não te quero longe de mim, embora o fogo
que vem de suas entranhas me transmita o odor do
vinho, dos gritos silenciosos que varam a madrugada
na minha noite solitária. Vem comigo, meu Aquiles,
deixa de ser tão Narciso!

E. – Adentra meu leito, Penélope, esquece teu bordado
(falho) de amor, vem praticá-lo com fervor em letras e
sonhos entre lençóis separados. Torna-se nua, minha
Psique, faz-me feliz em minha estadia no Hades!

V. – Meu Hércules, torna-te louco a cada dia e estrangula
minhas mitologias, minhas fantasias, as nostalgias. Vai
condenar-se e serve a Hera, trabalha para mim, ardente
fera, meu deus helênico, meu Paris, tão lindamente tosco,
meu Céfalo que vives como o coxo Hefesto. Teus trabalhos
em leito fazem estrelas e constelações nascerem no corpo
de tua Valentina, infeliz amante, sua Melpomene.

E. – Minha Cassandra, profetizas corretamente mas em
ti não acredito. Viver longe de tua performace, de sua mente
e de tuas palavras? Antes morrer, Calíope, submegir-me em
raiva de Poseidon. Oh, Calipso, amo-te tanto que não a dividirei.
Enlaço minhas mãos em teu pescoço e tento te lançar à doce
Coré, Persérfone do reino abençoado.

V. – Eduardo, meu Apolo, o que fazes? Onde está a tua santidade?
No panteão do Olímpo tu viveste como meu Zeus, tão meu e eu
tão sua... Agora sou jogada às Fúrias! As Parcas minha vida embaraçam,
desgraçam! Meu mundo cai lentamente! Desgraçado! Mata-me, mas
vingo-me fazendo-te igual a Prometeu!

E. – Morre, menina, desfalece tua sina em meus braços, descansa o
teu furor no meu abraço, experimenta a pequena morte através de
minhas mãos... Oh... Fala comigo, Érato! Repito meus juramentos
de amor eterno, minha Prócris! Oh, amor! Tua lira morreu, calou-se
a voz de Eurídice...

V. – Não... Não ainda, Orfeu macabro. Oh, meu prazer, meu
fenecer...

...

E. – Morreste, enfim, menina. Já não choro nem te igualo
às divindades. Cansei de mitologias e parto para o realismo
de Luidgi, meu naturalismo em teu pescoço arroxeado.
A alma do heterônimo compreende as tuas marcas, minha
necromancia. Vive no silêncio da tua tumba fria com teus
vermes, que eu continuarei a viver com outra musa!

(Entra a Verdade vestida de negro e na face rosada do cruel Eduardo, amante solitário, aplica uma severa bofetada)

V. – Eu sou bela, ridículo.
Cuspo-te e espanco-te.
Morre tu, infiel, para sempre.
Morrer é esquecer.
O mundo morreu para ti, morrestes
para o mundo.
Morre esquecido, ridículo, por que
não sabes o que o amanhã trará...

CAI O PANO


08/09/2009

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