- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DE NOITE

DE NOITE

aqui perto
existe um
saxofonista
que transforma
minhas tardes
minhas noites
minha vida
e traduz
minhas loucuras
em bonita melodia

ontem ele
estava tocando
um jazz lento e triste

hoje ele
percorre notas
alegres e contagiantes



eu

fechei os olhos
e suspirei bem fundo
e
o jazz me acompanhou
profundo

- desconfio que ele também consiga ouvir minha solidão.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

AUTORRETRATO AOS 18 ANOS

sim sofro ao ouvir o silêncio
sou volúvel e volátil mas detesto o ruído o barulho
por não encontrar ninguém essa incrível incapacidade
que possa me decantar de não calar

corro Daquele Outro Amor vivo procurando
mas não sei viver fora a forma de libertinar
do Seu Olhar a santidade escancarada nas veias

sim sim
existem os gritos há a absurda falta
as risadas e os meus amigos que tudo
mas também me faz
o claustro fechado e me deixa assim
escondido pelo sorriso cansado efusivo
melancólico
triste

sim há a busca incessante
estou incompleto por algo invisível
nasci incompleto por algo firme
sou por-acabar algo que eu possa me agarrar

sim
quem me forma
ainda não chegou
e meu eterno vício
é o de todas as noites
perguntar:
e você?

será que vai chegar?

não
não compreendo o meu lugar
mas algo me diz
profundo
que minha vida será
amar
amar
amar

terça-feira, 6 de setembro de 2011

GÊNESIS

GÊNESIS

no princípio
era eu
vagando em cima
das águas

depois veio você
tempestade solar
e mudou o mundo
com teu olhar

no meio
éramos nós
fogo e água
fincados na terra
sedentos por ar
para enfim

no fim
ser só eu
vagando com medo
de naufragar