- guia de um ordinário vernáculo -


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

VAI-SE VIVENDO

VAI-SE VIVENDO

Vai-se vivendo no escuro,
no choro escondido,
no beijo ressentido,
na raiva possuída,
no escárnio cuspido,
na lâmpada obtusa.

Vai-se vivendo com o tapa não dado,
o grito calado,
as verdades engolidas,
a dança fulminante,
o riso incessante.

Vai-se vivendo sem emoção,
sem amor, no calor do medo,
na monotonia, sem a beleza
do sobressalto, sem o simples tédio.

Vai-se crescendo com farpas enfiadas
nos dedos, nos olhos, na língua,
vai-se vivendo sem morte,
vai-se vivendo sem força
vai-se esvaindo em preces,
sem delongas, sem mentiras (mas sem verdades).

Vai-se vivendo.
Um dia após o outro acordando e dormindo.
Indo. Só indo. Indo e vindo.
Sem a emoção de abrir os olhos, contemplar o teto empoeirado e
sorrir.


16/12/2009

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