A casa fez-se em silêncio.
Cada qual repousou tranquilamente em seu quarto,
fingindo usufruir de um bom sono,
de um sono restaurador.
A casa gemia, estalava, retinia.
As almas retiniam, gemiam, retorciam.
Os corpos se mexiam, ardiam, contorciam-se.
As esperanças dormiam.
A continuidade percorria tranquilamente
os espaços entre os quartos.
O dia de ontem já não existe no desesperador
imperialismo do dia de hoje.
A casa quedou-se em silêncio.
Em silêncio de mentira, um silêncio
rompível e corruptível, facilmente
dessacralizado.
As almas abriram as asas.
Os corpos abriram as celas.
As esperanças foram passear.
O dia de ontem ainda existe na vaga memória
que insiste em não se entregar ao ofuscante
badalar dos relógios digitais.
As teclas são esmagadas.
A poesia mata a prosa.
O calor mata o sossego.
Os dedos estalam, contorcem-se, mexem-se.
A poesia é a mesma.
A necessidade é a mesma.
Os leitores são poucos,
a importância é nula.
A poesia se instaura e instala-se.
Os corpos descansam, esperançosos,
as almas rodeiam as proximidades.
Pode-se não ser totalmente feliz.
Mas tenta-se.
Com fervor.
11/01/2011
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