- guia de um ordinário vernáculo -


segunda-feira, 28 de abril de 2014

ELOGIO

ELOGIO

em dias como esses
me sinto irremediavelmente vivo
e a certeza me devora
com a força do vento que me assusta
não cumpri ainda nenhuma promessa
e minha vida se arrasta às pressas
meu corpo reluz de culpa
sim, estou errado e não me dói a consciência
pensamento atroz e dolorido
sou uma estátua de mármore
cheia de curvas e roupas enfurnadas
deu-me Deus a dúvida dolorosa
de não saber por qual estrada perco-me
(estava de olhos fechados quando
cheguei ao portão)
morrerei um dia mas sussurra-me alguém
que não é hoje e suspiro:
ainda há tempo de me arrepender
e por isso ignoro os olhares e a cobiça
enquanto tento chamar sua atenção
o que dói em toda gente é a certeza
de que em todo tempo a humanidade
perde um pouco de si:
penso todos os dias na morte
e alguns me repreendem:
ainda sou novo para isso
meu pai um dia me chamou
de velho e foi o melhor elogio
que já recebi:

eu sei que ela
me espreita

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