- guia de um ordinário vernáculo -


segunda-feira, 7 de maio de 2018

NOSSO ÚLTIMO POEMA


NOSSO ÚLTIMO POEMA

uso seu perfume
como quem morre
um pouco a cada dia
vingança só minha:
te matar
te mantendo vivo

há pouco chegou
aos meus ouvidos
a notícia da sua morte

e a sua morte,
para mim,
tem a aparência
do seu sorriso

a cama que você deitou
não mais existe
as sandálias que você deixou
não cabem mais nos meus pés
os livros que você me deu
estão brancos e nunca foram escritos

tudo o mais
é migalha na estrada
são restos por mim cuidados
a forma minha de frágil amparo
a forma de não te perder
num adeus continuado

mas seus pés são grandes
e curto é o caminho:
a notícia de sua morte
há pouco me deixou
sozinho

eu pousei a pena
porque tudo está consumado
e minha mão que foi seca
porta agora as bênçãos
que você ignorou

7/5

há que se ressaltar meu vago sobressalto quando te vi. o fim está consumado, não espero nenhum milagre, nem mesmo quero o fogo, não quero ser salvo. te vi de longe, e você estava frágil e fraco, mas rodeado, e isso parece muito bom, parece que está tudo bem, então segue o voo, ave sem asa, que eu guardo as penas que encontrar na estrada. o cansaço já é maior que qualquer coisa. hoje é o fim da navalha.

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