- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

ESPANTOS


ESPANTOS

como explicar, amor,
o que é pela primeira vez
amar?

sem o peso do gozo
mas a venturosa corrida pelo
ouro

seus braços criando mundos
nas delícias terrenas do limite
do corpo

e sentir o novo
nas passadas do novo
o velho sentir

sentir toda a água do mundo
dentro dos ventos que tenho
nos olhos

voar nas costas de um anjo
que beija com a
pele

alcançar qualquer coisa que
tenhamos debaixo dos
ossos

sentir o gosto
quando parecia esgotado
o tempo

amar no plácido arranhão
de todo momento de
poema

vivendo a pureza
da impossibilidade de poesia
porque o lirismo já é rima

e qualquer palavra
é inútil além do corpo
criado na nossa união

e não vivemos senão
pela calma inútil da espera
de sermos para sempre

sem nunca encontrar
o caminho ausente
de saber o que é
amar mais que amar.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

CHUVA

CHUVA

toda chuva que cai
repete o dia em que
conheci a solidão
pela primeira vez

naquela tarde
não chovia

mas trovejava
dentro de mim

terça-feira, 30 de abril de 2019

CÂNTICO DOS NOVOS CÂNTICOS


CÂNTICO DOS NOVOS CÂNTICOS

meu antídoto
beberagem amaviosa
quando escorre sangue
nas minhas pernas falhas

o mar que brinca de tocar o céu
quando os corpos antecedem os olhos
e palavras não alcançam as mãos

seu rosto,
minha educação: o riso preso
no ruivo do beijo
longínquas alturas dos teus eixos

os fragmentos dos cristais
na ponta dos seus dedos
lições aprendidas então
na ressaca dos desejos

meu areal de ouro
mergulho da aliança do calor
palavra escondida, palavra evitada
palavra de susto:

amor,
meu antídoto
do medo.