- guia de um ordinário vernáculo -


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

hora de amassar pergaminho 1

agora, apenas uma sensação de que ainda não encontrei minha voz. nos afazeres do cotidiano, me sinto mais cansado, mas menos triste. é a meditação do ofício, essa entrega de pensamento disforme. mas ainda não me encontro, fico rodeando o interior de mim, nem mais posso escrever poesia, quase já não creio em sua existência, outro dia cheguei a duvidar da arte em voz alta. tremo ainda assim, tenho pavor de virar cínico silencioso.

ainda não é hora de amassar pergaminhos. o dedo sem digital no arrasto do vidro, minhas mãos que um dia se abrirão tomadas de escritos, a textura e o encontro do sangue, fraqueza, vontade. a hipnose do contínuo, enganando em novas abas.

tenho estado confuso, vez em quando delírio que sou personagem de livro, visto figurino, espero narrador. parece então que me posso embalar meu país nos braços, e isso nem com meus pais posso estar descalço. a ilusão de rostos atentos engana o alcance da minha voz, não a mesma perdida e fechada atrás da porta, prestes a ser descoberta quando a escrita eterna cessar, mas a do mestre mentira, magister do dia a dia. não posso mudar nenhum rumo, contribuo porque parece que assim deve ser, chego a crer com violência interior, mas tenho a sina de duvidar de tudo, até mesmo de mim.

não me encontro, sempre reclamei disso em forma de poesia. e mais não digo: acho que tenho febre, mas deve ser cansaço.

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