- guia de um ordinário vernáculo -


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DAS COISAS QUE ME ESPANTAM NO AMOR


DAS COISAS QUE ME ESPANTAM NO AMOR

Me espanta no amor essa sua capacidade de mudar. E então quando o amor muda a vida parece que fica surda e insiste em continuar. O amor num dia grita no alto de uma montanha que é para sempre, que veja só, nosso amor é corrente. Me espanta no amor essa sua capacidade de mentir. E de seguir em frente. Promessas e lembranças viram pedaços esquecidos nas gavetas e tudo vira dança dança dança. Vento passa e o amor muda, amor me espanta por ser vazio quando deveria insistir em ser cheio. Amor me espanta por fazer feliz e de repente enlouquecer e partir. E então me espanta muito isso do amor fazer chorar. Isso sim é mistério. Amor de um vai pro cemitério e em outro o luto continua, vira um caso sério. Louco louco louco. Louco de não conseguir clarear o sol ou de andar reto nas calçadas. Amor aprisiona represas e gosta de ser medieval, criando monstros dentro do coração: cabeças enormes de saudades e nenhuma disposição de saciá-la. Amor é louco quando acaba e em um coração distraído continua a pulsar. Não, ele grita, não vou deixar acabar! Isso me espanta mais que tudo no amor: o amor enlouquece, mas quando a gente vira caso de mercê, de prece... Vem o amor com a cara mais limpa do mundo e lhe beija a face, diz ser fecundo: e tudo vira caso de um esquecido bêbado vagabundo. Pronto para recomeçar.



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