DAS COISAS QUE ME ESPANTAM NO AMOR
Me espanta no amor essa sua capacidade de mudar. E então
quando o amor muda a vida parece que fica surda e insiste em continuar. O amor
num dia grita no alto de uma montanha que é para sempre, que veja só, nosso
amor é corrente. Me espanta no amor essa sua capacidade de mentir. E de seguir
em frente. Promessas e lembranças viram pedaços esquecidos nas gavetas e tudo vira
dança dança dança. Vento passa e o amor muda, amor me espanta por ser vazio
quando deveria insistir em ser cheio. Amor me espanta por fazer feliz e de
repente enlouquecer e partir. E então me espanta muito isso do amor fazer
chorar. Isso sim é mistério. Amor de um vai pro cemitério e em outro o luto continua,
vira um caso sério. Louco louco louco. Louco de não conseguir clarear o sol ou
de andar reto nas calçadas. Amor aprisiona represas e gosta de ser medieval,
criando monstros dentro do coração: cabeças enormes de saudades e nenhuma
disposição de saciá-la. Amor é louco quando acaba e em um coração distraído
continua a pulsar. Não, ele grita, não vou deixar acabar! Isso me espanta mais
que tudo no amor: o amor enlouquece, mas quando a gente vira caso de mercê, de prece...
Vem o amor com a cara mais limpa do mundo e lhe beija a face, diz ser fecundo:
e tudo vira caso de um esquecido bêbado vagabundo. Pronto para recomeçar.
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