- guia de um ordinário vernáculo -


quinta-feira, 10 de junho de 2021

PIA DESIDERIA

PIA DESIDERIA

mesmo coberto de palmas de palmeiras
malícia do tempo
finco o tronco do veneno, o grito
desejo de viver, a morte por isso não existe

espreita pois é a primeira das filhas de deus
nossa tão próxima companheira, 
dorme e nos lambe os beiços feito as almas,
todas as noites, como me disse o meu avô

por isso, nenhum medo, mas muita raiva
porque em mim transpassa a curiosidade do amor
por essa gente esquálida, os humanos mesmo
ridículas criaturas sem alma, só vagando no nada

e não merecem meu ardor, e é por ser eles
que me dedico a dedilhar cordas e pés
vozes dançando cansadas, a pouca vida,
o muito tempo que guardo em mim

mas eis-me arando um cemitério de vivos,
palmeiras cobertas de sonhos,
os cocos velhos transbordando salitre,
esperando ser caveira, produto final,
sinal dos tempos.

0 comentários:

Postar um comentário