PIA DESIDERIA
mesmo coberto de palmas de palmeiras
malícia do tempo
finco o tronco do veneno, o grito
desejo de viver, a morte por isso não existe
espreita pois é a primeira das filhas de deus
nossa tão próxima companheira,
dorme e nos lambe os beiços feito as almas,
todas as noites, como me disse o meu avô
por isso, nenhum medo, mas muita raiva
porque em mim transpassa a curiosidade do amor
por essa gente esquálida, os humanos mesmo
ridículas criaturas sem alma, só vagando no nada
e não merecem meu ardor, e é por ser eles
que me dedico a dedilhar cordas e pés
vozes dançando cansadas, a pouca vida,
o muito tempo que guardo em mim
mas eis-me arando um cemitério de vivos,
palmeiras cobertas de sonhos,
os cocos velhos transbordando salitre,
esperando ser caveira, produto final,
sinal dos tempos.
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