- guia de um ordinário vernáculo -


sexta-feira, 29 de abril de 2011

DEFINIÇÕES

DEFINIÇÃO II

insanidade
é o que desenvolvo
quando passas devagar
e seu cheiro fica no ar

DEFINIÇÃO III

confusão
é um lugar estranho
onde você me deu
casa comida roupa lavada
e olhares para sofrer

DEFINIÇÃO IV

culpa
é o cordão amarrado
no olho:
renitente lembrete

DEFINIÇÃO V

impossível
é o que você
me fala
quando eu te olho
e você olha pra ele

DEFINIÇÃO VI

solidão
é calar
e sentar
do seu lado

DEFINIÇÃO VII

alegria
é uma pílula
em falta no mercado

quarta-feira, 27 de abril de 2011

prosas rápidas

27/04/2011

Me definiram como metalinguista: quando não estou desesperando o meu impossível amor, estou falando sobre o fazer poético. No fundo, para mim, é tudo a mesma coisa: metafísica, metalinguagem, metapaixão. Drummond disse que não admite que se chame de poeta quem poetiza por dor de cotovelo. Olha, Drummond, meus poemas se confundem tanto com a dor, com o sofrimento e com o amor por um só motivo: minha vida é isso.

***
“Tenho direito ao grito”. Escrever é a minha forma de gritar. Não é a única, mas é a que eu mais gosto. Tô escrevendo para me entender e para me divulgar ao mundo. Me acham meio arrogante: talvez eu seja mesmo, mas não o sou por maldade. Só acho que a falsa modéstia é uma desnecessária interpretação para si mesmo. Escrevo para mim (gosto de minhas poesias, gosto do meu jeito) e para os outros. Sou confuso demais para me fechar em mim mesmo, por isso me torno interessante. Escrevo para dizer que gosto, que quero, que não tenho. Escrevo para não dizer nada, para dizer muito, para escoar o excesso de letras que se amontoam em minhas mãos. A escrita, para mim, já é uma Entidade. Sou dEla e Ela me governa. Discípulo (in)fiel, não passo um dia longe de seus ensinamentos: adoro me perder nesses caminhos.

***
É uma situação muito engraçada. Uma amiga minha me disse que não sou volúvel: sou volátil. Gosto e desgosto com uma velocidade estonteante. Não aprovo isso, mas sou assim. E não me sinto leviano ou superficial ou culpado. Quando eu gosto, gosto profundamente e muito. De vez em quando caio nesse estado de profunda melancolia, numa tristeza e num silêncio que não são meus. Toda minha alma é a revelação do coração: fico mais velho do que sou, mais corcunda, um idoso precoce na precocidade de minha juventude (madura?). Tudo isso são sintomas da doença do calar. Quando escancaro as portas e as janelas e deixo o híbrido filhote do silêncio e da paixão saia, me sinto, por gloriosos segundos, mais moço. Não digo mais livre por que quem escolhe viver na incansável luta diária consigo mesmo não é livre nunca. Liberdade significa abrir mão, e eu ainda não sou austero desse jeito. Sou é doido por me contradizer todos os dias e me calar. Fico triste, mas Santa Tereza disse que tudo passa... Tereza, meu bem, “se tudo passa como se explica o amor que fica nessa parada”?
Hein?

terça-feira, 26 de abril de 2011

DEFINIÇÃO

DEFINIÇÃO

masoquismo
é querer
que você
saiba

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PLANETARIAMENTE INDIRETO

PLANETARIAMENTE INDIRETO

dizem que estão nos anéis de saturno
homens noturnos
falam soturnos essas rimas
que só servem para a repetição
infinita – vida eterna à poesia
que não serve pra nada
só serve para o meu nada

não tente ver como são
os homens
se assustaria pois se veria
na contradição que forma
o puro átomo da presença
que constitui o enorme vazio
que institui a vida nesses
dias estranhíssimos em que tentamos não viver

cheio de ciúmes
de rara espécie
inexplicável injustificável
impossibilitado de colocar
a ciumeira para fora
para outro universo
para outro planeta
quiçá para outra freguesia
outra distante mas vizinha
que o ciúme me deixa
morto mas calmo
por me saber mais louco

vou me descobrindo
volúvel
mais que volúvel
inconstantemente irresolúvel


20/04/2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

VIA DOLOROSA

VIA DOLOROSA

minhas heresias estão
passando dos limites

temo que a inquisição
esteja vindo me buscar

furei os olhos do deus
que não quer me ver pecar

espectro das abstrações santas
enterrei as velas estranhas

toco em fúria as mil matracas
cantando o terror da ignorância

santidade marcada pra acontecer
rezo que se repita ao bel prazer

o sussurro do Deus real e bondoso
que me diz:

essa semana
nem sempre
é a mais
branda


19/04/2011

sábado, 16 de abril de 2011

COMPLACÊNCIA

COMPLACÊNCIA

toma tento na vida, matheus
toma rumo na lida
toma jeito na vencida arte
de tentar ser homicida

cala boca, matheus
fica quieto e atina:
a época é de mentira
de silêncio e de intriga

não reaja, matheus
não aja não faça nada
se joga pra dentro da mala
reforma essas velhas metáforas

cale, matheus
não diz que sente
não vá tentar ser incoerente
tente entender
que seus sentimentos
são extremamente
impertinentes

não liga, matheus:
desliga
se distrai
retrai
abstrai

não fala nada
só faça olhar
quem não te tem
não pensa em lutar

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ERA UMA CASA MUITO ENGRAÇADA

ERA UMA CASA MUITO ENGRAÇADA

foi com temor
que vi
aquela casa de loucos

preso entre quartos tortos
preso entre santos doidos
preso entre mentirosos tolos

foi com temor
que deitei e calei
diante de tanta loucura
dessa casa de loucos

me calei por espanto
porque calar é melhor
e só fala quem mente
e blasfêmias são normais
acho que deus nem se ofende
porque esse deus não pode ser
Deus
(esse que não se entende)


um tenta ser mais louco
que o outro
é um jogo
de superação
ergue-se o tijolo lamentoso
e assim forma-se a casa dos doidos

doidos esses
que se vestem muito bem
que falam muito bem
que vivem muito bem
obrigadíssimo

doidos esses
que quando pisam fora
do seu território
viram sãos amores

pessoas melhores nunca se viu na corte

mas o estranho mesmo
mais que conhecer e falar
dessa casa de doidos
é descobrir
sem surpresa
que eu sou
dentre todos
o maior

louco.

14/04/2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

POEMA PARA O DIA DA MENTIRA

POEMA PARA O DIA DA MENTIRA

fui me declarar
recebi um sorriso
recebi um beijo
recebi um abraço
um “muito obrigado
como você demorou”
nos olhamos nos olhos
nos amamos a bordo
caímos no chão
rimos a noite inteira
portamos nossa bandeira
e descendo aquela ladeira

cantamos dançando
felizes por simplesmente
estarmos felizes naquele
grande e sincero
dia.

carol minha amiga carol

carol minha amiga carol
hoje esse poema não vai falar de amor
- mentira, vai sim –
vai falar do meu amor, carol,
por você.

carol minha amiga carol
falamos hoje de você
e lembramos que te amamos
e olhe que eu não tenho seu telefone
e eu queria te ligar pra cantar
(e olha que eu nem sei cantar)
que eu gosto tanto de você
carol minha amiga carol.

a vida é assim
e nessas horas
nem se tem o que falar
só se tem o abraço
que eu juro que vou
te dar.

carol minha amiga Carol
você é linda
por fora por dentro
por tudo que é lado
porque sua alma
tenta com afinco
ter o céu alado.

carol
minha amiga
carol
hoje essas letras minhas
são suas
pra te lembrar que gosto
de você
e esse é meu jeito
de demonstrar.

01/04/2011