PASSAGEM NO LITORAL
céu tingido
surdo farol dos poetas
no vento da Barra.
os loucos que correm cheirando a mar
os que correm querendo suar
o cristo penumbra, silhueta
contrastada: escuridão e a salvação
de sóis laranjas.
piso azul de divindades raras
na lua cheia quem já não quis
ver a sereia, a cantadeira?
iemanjá mareia.
brisa beijo nos corpos rebolantes
das calçadas e das areias.
invade o cheio com sotaque das
três vênus gordas que dominam
o caminho de antigos barulhos
pés e arquejos: ajayô.
fátima abençoa de sua casa
de vidro os que caminham
na oceânica avenida até os
rios da boemia, dos bares
e das festas que rodeiam
a diva noturna dos acarajés
e dos que sem paciência entornam
o vinho de jorge.
aqui correm rios de cheiro de
dois de fevereiro e das missas
dominicais
e a continência ao general
é feita enquanto a viagem
prossegue em paz.
salvador me desliza atravancada
e eu sonho com a beleza na calçada
vejo a vida e as gentes
voltando às suas casas.
na lírica luz da lua cheia
louca vontade da sereia
em teus caminhos de calor
meu amor
meu passeio
não tem fim.