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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cartas Errantes IV

http://asminhasbreguices.blogspot.com/2010/02/cartas-errantes-iii.html

Minha menina,

Se me permite, devo responder a sua carta pelo fim. Esses seus últimos parágrafos constituíram para mim uma verdadeira tábua de salvação. Estou constrangido de saber o quanto você me conhece. Tenho vontade de enquadrar o final de sua correspondência e colocá-la ao lado de minha cama, para que eu possa todos os dias me conhecer um pouco mais.

Não contei para ninguém os verdadeiros sofrimentos de minha alma, mas acho que você merece saber os motivos de minhas lágrimas: sim, o problema vem de meu coração, como sempre. Só que dessa vez, minha querida menina, ele superou todas as tempestades que já enfrentei nessa minha curta vida. A dor que senti não é comparável. Perdi a caprichosa do meu coração, a minha petit, meu amor maior. Enfim, depois de tal desilusão fica difícil viver, mas estou caminhando. Já não sinto dor, sinto apenas um grande vazio. Acho que estou deixando-a partir. Hoje estou melhor que ontem, amanhã estarei melhor que hoje... Como disse São Paulo: “o amor é paciente”. Espero, então.

Se agüentei firme no meio desse dilúvio de adagas afiadas foi por amor à vida, essa volúvel. “Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!”, como exclamou Mário Quintana. Tenho esperanças no amanhã e fito o horizonte esperando um novo dia. Quem sabe ele não me trará sinais de fumaça vindos de uma nova alegria?
Mas deixemos de lado as reminiscências de um menino-velho e vamos ao seu delicioso sonho. Que narrativa fantástica! Tão complexa que precisei lê-la três vezes. Eu vivi e senti cada palavra em minha própria pele. Consigo me imaginar nesse seu sonho (belissimamente traduzido em palavras). Sinto a dor e hesitação dessa mulher. Diante de um novo caminho, o que fazer? Você, mais uma vez, consegue desvendar os mistérios da alma de forma brilhante. Qual o seu segredo para alcançar tal sucesso? Eu sou essa sua protagonista. Uma frase me chamou a atenção: “Carregaria a partir daquele dia a marca sutil, porém notável, das decisões tomadas cegamente”. Agora é a hora d’eu gritar feito um maníaco louco: “quem lhe contou minha vida? Quem lhe contou minha vida?!”.

Em determinado momento, na narrativa, a noite chega. A Noite Escura avança impiedosa. Diante de tal fenômeno repetimos a velha e costumeira pergunta: “o que fazer?”. Ela está determinada a continuar a andar. Eu também. Contudo, logo ela percebe que é difícil caminhar sozinha. É quase impossível progredir sem companhia. A solidão sufoca a alma, querida menina, e você entendeu isso como ninguém.
Apoiarei-me, enfim, nos meus amigos, na minha família, no meu Deus sempre presente. Com eles, é bem mais fácil caminhar... Mas, como você mesma diz, a história de sua pequenina aventureira não acabou. Para mim, esse final é tão digno que me enche de esperança. Aguardo o desfecho da história, pequena amiga. Mande-me logo.

Despeço-me com saudades,

E.

1 comentários:

L disse...

http://asminhasbreguices.blogspot.com/2010/02/cartas-errantes-v.html

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